quarta-feira, abril 02, 2008

Em conversa: Rádio Macau (2/3)

Continuamos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Xana e Flak, dos Rádio Macau que serviu de base a um artigo publicado na edição de 31 de Março do DN.

O que vos faz, aos 25 anos, querer fazer mais um disco de Rádio Macau?
Flak (F)
- Tem sido assim. Fazemos um disco e, algum tempo depois, apetece-nos naturalmente fazer compor para outro. Acaba por ser um trabalho sem prazos, ao contrário de antigamente. Quando há qualquer coisa para mostrar o disco sai... Para este disco gravámos as primeiras bases rítmicas em Fevereiro de 2007. Em Setembro resolvemos acabar o disco e fazer os arranjos e misturas finais.
Xana (X) – Porque também só nessa altura tínhamos um número de canções já bastante razoáveis e passíveis der ser editadas. Isto porque hoje temos um sentido muito mais crítico. Se calhar em discos anteriores aceitávamos músicas de que não gostávamos tanto. Hoje não aceitamos o mais ou menos...
F – Tínhamos 14 canções prontas e, quando estávamos a fazer o alinhamento, houve duas, que até tiveram filmes pelo José Nascimento, mas que acabaram de fora. O disco fica mais sólido e equilibrado com 12. Mais que 50 minutos num disco é demais. E muitas vezes não vale a pena.

Ainda há espaço para a surpresa para uma banda com 25 anos?
F
- Neste caso a surpresa foi termos dois elementos novos. O Fred e o Ricardo.

São elementos dos Rádio Macau?
F
– Quando convidamos alguém para tocar connosco não fazemos essa separação. E neste caso o input deles foi muito importante. Fiz as demos das canções deixei as coisas o mais aberto possível para nós próprios termos surpresas. E eles várias vezes surpreenderam-nos. Quando se tem uma banda é importante que cada pessoa toque à sua maneira, que se sinta lá.
X – O inesperado não é linear... E há umas fases em que somos mais criativos, outras menos...

A vossa carreira começou nos dias do vinil. Hoje vive na era do mp3. Acompanham a forma como tem evoluído a ralação dos músicos com a forma como a música chega a quem a ouve?
F – Temos acompanhado. Apesar de, quando estamos mais envolvidos nos processos criativos, não prestarmos tanta atenção...

O que pensam do modelo usado pelos Radiohead no álbum In Rainbows?
F
– No caso deles é a prova de que às vezes as coisas não chocam umas com as outras. É facto que disponibilizaram o disco. E depois, quando saiu fisicamente, as pessoas compraram à mesma. Se as pessoas gostam de um disco continuam a querer ter o objecto, a capa, as letras... Mas já não é como antigamente. Já não se vão vender tantos CD como antigamente. Os concertos vão ter mais importância. Não sou contra os downloads. É uma coisa legítima se a pessoa tem curiosidade...

Fala de downloads pirata...
F
– Sim. É mais uma descoberta que pilhagem. Se gostar muito do disco vou comprá-lo. No passado comprei muitos discos sem saber, dos quais não achei piada nenhuma. Todos os formatos podem coexistir.
X – Aceito todos os formatos, mas uns têm pior qualidade, como é o caso do mp3. Prefiro ouvir música em vinil, ou em CD... O mesmo acontece com os formatos para cinema. Ver um vídeo ou um mpeg4 não é o mesmo. Estes formatos vieram contudo acrescentar uma maior oportunidade de termos informação e acesso ás coisas. Mas depois há outro problema: como digerimos toda esta informação? O que fica?
(conclui amanhã)