O novo filme de Francis Ford Coppola, Uma Segunda Juventude, é um reencontro do cineasta de Do Fundo do Coração com as raízes estéticas do seu próprio cinema — este texto foi publicado no Diário de Notícias (4 Abril), com o título 'Sentido do risco'.
Vendo o novo filme de Francis Ford Coppola, Uma Segunda Juventude, percebemos que o autor de Apocalypse Now nunca abandonou o sentido do risco que, desde os primeiros filmes, está inscrito no seu trabalho. Afinal de contas, ao “adaptar” o romance de Mircea Eliade (título inglês: Youth Without Youth), Coppola [na foto com o actor principal, Tim Roth] consegue essa coisa prodigiosa e desconcertante que é fazer um filme psicológico que, ponto por ponto, escapa a todos os efeitos tradicionais da análise psicológica. Dir-se-ia que Uma Segunda Juventude é uma visão abstracta das coisas concretas da vida e da morte.
Tantas vezes associado ao grande espectáculo e, através dele, ao mundo sofisticado da grande produção em estúdio, Francis Ford Coppola é, de facto, um experimentador nato. No sentido mais simples, e também mais radical, que a noção de experimentação pode envolver. Pensemos, por exemplo, em Do Fundo do Coração (1982), filme que pode resumir todos os seus sucessos (artísticos) e sobressaltos (comerciais). Não será Do Fundo do Coração uma apoteose dos recursos e potencialidades do estúdio? E, ao mesmo tempo, não estará nas suas imagens (e sons) a apaixonada celebração do cinema como trabalho em que se pode experimentar tudo, interrogar e reinventar todas as histórias e, sobretudo, todas as formas de as contar?
Uma parte significativa dessa perma-nente disponibilidade para desafiar as fronteiras do cinema (e da arte de fazer cinema) está ligada aos primeiros tempos da carreira de Coppola e, muito concretamente, à sua relação com o produtor/realizador Roger Corman, para quem dirigiu, em 1963, a sua primeira longa-metragem, Dementia 13. Mestre dos filmes de “série B”, com orçamentos minimalistas e curtíssimos tempos de rodagem, Corman incutiu em Coppola (como, por exemplo, em Martin Scorsese, outro cineasta com um começo de carreira a ele ligado), a noção de que é preciso fazer das fraquezas forças e que um filme “barato” deve ser concretizado com a mesma energia de uma qualquer superprodução e, acima de tudo, sem desculpas miserabilistas. Digamos, para simplificar, que o discípulo compreendeu a lição.
Vendo o novo filme de Francis Ford Coppola, Uma Segunda Juventude, percebemos que o autor de Apocalypse Now nunca abandonou o sentido do risco que, desde os primeiros filmes, está inscrito no seu trabalho. Afinal de contas, ao “adaptar” o romance de Mircea Eliade (título inglês: Youth Without Youth), Coppola [na foto com o actor principal, Tim Roth] consegue essa coisa prodigiosa e desconcertante que é fazer um filme psicológico que, ponto por ponto, escapa a todos os efeitos tradicionais da análise psicológica. Dir-se-ia que Uma Segunda Juventude é uma visão abstracta das coisas concretas da vida e da morte.
Tantas vezes associado ao grande espectáculo e, através dele, ao mundo sofisticado da grande produção em estúdio, Francis Ford Coppola é, de facto, um experimentador nato. No sentido mais simples, e também mais radical, que a noção de experimentação pode envolver. Pensemos, por exemplo, em Do Fundo do Coração (1982), filme que pode resumir todos os seus sucessos (artísticos) e sobressaltos (comerciais). Não será Do Fundo do Coração uma apoteose dos recursos e potencialidades do estúdio? E, ao mesmo tempo, não estará nas suas imagens (e sons) a apaixonada celebração do cinema como trabalho em que se pode experimentar tudo, interrogar e reinventar todas as histórias e, sobretudo, todas as formas de as contar?
Uma parte significativa dessa perma-nente disponibilidade para desafiar as fronteiras do cinema (e da arte de fazer cinema) está ligada aos primeiros tempos da carreira de Coppola e, muito concretamente, à sua relação com o produtor/realizador Roger Corman, para quem dirigiu, em 1963, a sua primeira longa-metragem, Dementia 13. Mestre dos filmes de “série B”, com orçamentos minimalistas e curtíssimos tempos de rodagem, Corman incutiu em Coppola (como, por exemplo, em Martin Scorsese, outro cineasta com um começo de carreira a ele ligado), a noção de que é preciso fazer das fraquezas forças e que um filme “barato” deve ser concretizado com a mesma energia de uma qualquer superprodução e, acima de tudo, sem desculpas miserabilistas. Digamos, para simplificar, que o discípulo compreendeu a lição.