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Vendo o novo filme de Francis Ford Coppola, Uma Segunda Juventude, percebemos que o autor de Apocalypse Now nunca abandonou o sentido do risco que, desde os primeiros filmes, está inscrito no seu trabalho. Afinal de contas, ao “adaptar” o romance de Mircea Eliade (título inglês: Youth Without Youth), Coppola [na foto com o actor principal, Tim Roth] consegue essa coisa prodigiosa e desconcertante que é fazer um filme psicológico que, ponto por ponto, escapa a todos os efeitos tradicionais da análise psicológica. Dir-se-ia que Uma Segunda Juventude é uma visão abstracta das coisas concretas da vida e da morte.
Tantas vezes associado ao grande espectáculo e, através dele, ao mundo sofisticado da grande produção em estúdio, Francis Ford Coppola é, de facto, um experimentador nato. No sentido mais simples, e também mais radical, que a noção de experimentação pode envolver. Pensemos, por exemplo, em Do Fundo do Coração (1982), filme que pode resumir todos os seus sucessos (artísticos) e sobressaltos (comerciais). Não será Do Fundo do Coração uma apoteose dos recursos e potencialidades do estúdio? E, ao mesmo tempo, não estará nas suas imagens (e sons) a apaixonada celebração do cinema como trabalho em que se pode experimentar tudo, interrogar e reinventar todas as histórias e, sobretudo, todas as formas de as contar?
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