Johannes Brahms (1833-1897) tinha apenas 20 anos quando Robert Schumann escreveu, no Neue Zeitchrift für Muzik um artigo que fez história a que deu o título “Neue Bahnen” (ou seja, “Novos caminhos”). O artigo falava, entre outras figuras e assuntos, do jovem Brahms, que Schumann viu ao piano, afirmando que na ocasião “revelara regiões maravilhosas” a quem o escutava. Brahms apresentara, nesse programa, o que identificara como sonatas. Schumann chamou-lhes sinfonias disfarçadas... E exortou o jovem músico a experimentar a escrita sinfónica... Se o artigo agradou a Brahms pelos elogios, a verdade é que também nele semeou um certo temor pela responsabilidade... Ansiedade pura e simples, abrindo uma das histórias de receio mais célebres da música do século XIX. E levou mais de duas décadas a responder à sugestão. E quando o fez deixou inscrita uma curta, mas soberba, obra sinfónica. No hiato entre o desafio e resposta, Brahms ensaiou várias abordagens à sinfonia, de uma delas nascendo o seu Concerto Para Piano e Orquestra Nº 1 em ré menor. Na génese deste concerto moram esboços para uma sonata para dois pianos que, a conselho de amigos, Brahms orquestrou, com vista à criação de uma primeira sinfonia... Acabou todavia por desenvolver os esboços no sentido de um concerto para piano, com um primeiro andamento majestoso, herdeiro da eloquência de um Beethoven, em Scumann procurando depois referências para o desenvolvimento do segundo e terceiro andamentos. Esta outra “sinfonia disfarçada” conhece agora nova gravação pela BBC Symphony Orchestra, dirigida pelo checo Jiri Belohlavek, e com o jovem francês Cédric Tiberghein (piano) como solista, que se tem afirmado presença regular no catálogo recente da Harmonia Mundi (que edita este disco). Ao Concerto para Piano e Orquestra Nº 1 o alinhamento do CD junta ainda, e também de Brahms, as Variações op.50a sobre um tema de Haydn.
Também de Johannes Brahms, os escaparates nacionais receberam recentemente uma gravação (da EMI Classics em finais de 2007) do fulcral Ein Deutsches Requiem, pela Filarmónica de Berlim, sob direcção de Sir Simon Rattle, com as vozes de Dorothea Röschmann (soprano) e Thomas Quasthoff (barítono). Obra central na obra de Brahms, é a sua composição de maior envergadura. Apesar do título, aproxima-se pouco da tradição litúrgica da missa de requiem, revelando-se antes mais um acto de consolação dos enlutados. Estreada em 1868, usa fragmentos de textos da Bíblia luterana, assinalando logo aí um afastamento aos cânones das missas pelos mortos. Crente, mas não dominado pela vida religiosa, Brahms chegou mais tarde a afirmar que gostaria de ter trocado o “alemão” do título por “humano”, amplificando assim a extensão de um sentimento de perda além de uma noção de identidade nacionalista. Há quem defenda que esta obra foi motivada pela dor das perdas da sua mãe e do amigo Robert Schumann.