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Notícias das últimas semanas dão conta da situação ago-nizante a que chegou o cinema Quarteto. Primeiro, a Inspecção-Geral das Actividades Culturais considerou haver deficiências várias no complexo de quatro salas, incluindo a falta de saídas de emergência em número adequado; depois, a inexistência de verbas para garantir as medidas exigidas pela lei conduziu a um encerramento “por tempo indeterminado”. Entretanto, os poderes públicos ponderam a hipótese de classificar o Quarteto como espaço de interesse cultural.
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Não está em causa o facto de os multiplexes exibirem muitos filmes admiráveis. Como não faz sentido escamotear que alguns desses multiplexes proporcionam sofisticadas condições de projecção. Está em causa, isso sim, um valor vital de qualquer mercado cinema-tográfico. Ou seja: a pluralidade da oferta, valor que, importa lembrar, está longe de ser apenas cultural, uma vez que depende de factores de natureza visceralmente económica.
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O pior que poderia acontecer ao Quarteto seria que os decisores políticos o tratassem como um caso de nostalgia. Já basta de atitudes paternalistas que acabam por matar lentamente as salas de espectáculos, ao mesmo tempo que recusam lidar com a realidade, nua e crua, do mercado. Neste caso, importa ter em conta algo que decorre da mais básica lei da oferta e da procura: é vital que o chamado mercado cultural não seja “forçado” a submeter-se a lógicas que, em última instância, impedem os espectadores de aceder à diversidade da produção cinematográfica, seja ela contemporânea ou clássica (e é absurdo que essa diversidade se tenha tornado infinitamente maior na área específica do DVD). Mesmo com desequilíbrios e limitações, essa preocupação continua a ser essencial na oferta das grandes capitais da Europa. Por uma vez, não nos ficaria mal sermos europeus.