
Começa com a banalidade do telefone se avariar. O telefone "fixo", entenda-se, um desses telefones que parece um telemóvel e a que continuamos a chamar "fixo". Ligamos para as avarias e surgem aquelas vozes de computador — assustadoramente big brother — que nos pedem para ir carregando em números (o avariado, o do telemóvel de onde ligamos), até que finalmente nos aparece uma voz humana. Humana? Não se tem a certeza, já que a pessoa fala como se fosse uma descendente bastarda do Hal 9000... Estive quase para perguntar se sabia quem era Hal 9000, mas tive receio de a ofender.

Vinte e quatro horas depois. A avaria persiste e nenhuma voz me diz nada. Volto a telefonar para o número das... avarias. Voltam a pedir-me números. E, para meu espanto, a mesma voz metalizada, programada por informáticos que viram demasiados filmes, debita-me o número de código da minha avaria e conclui, seguríssima, que a avaria se encontra "em análise". Depois: silêncio. Are you talking to me?
Desculpem a pergunta: está tudo morto? Não há ninguém para falar ao telefone? E, já agora, se não levarem a mal, podem tratar da avaria do meu telefone? Sem ofensa. Coitado do Hal.