Esta imagem serve de destaque numa notícia exclusiva, publicada no site da revista norte-americana Entertainment Weekly: o assunto é a primeira apresentação de Benicio Del Toro no papel de Wolfman. Onde está, então, o actor? Escondido, sem dúvida perdido, algures sob a caracterização de Rick Baker.
Não me interpretem mal. O filme The Wolfman, dirigido por Joe Johnston (com lançamento previsto para Fevereiro de 2009), poderá vir a revelar-se um interessantíssimo objecto de cinema. Além do mais, Del Toro é uma personalidade hiper-talentosa e Rick Baker, convém não esquecer, tem o seu nome ligado a notáveis expe-riências de caracterização/transfiguração dos corpos, incluindo Um Lobisomem Americano em Londres (1981), de John Landis, Video-drome (1983), de David Cronenberg, e Ed Wood (1994), de Tim Burton. O que está em causa é de outra natureza — mais concre-tamente: o que está em causa decorre da própria atitude jorna-lística. Ou seja: a notícia sobre o actor omite... o próprio actor.
Nem sequer é um problema de boa ou má fé (e vale a pena ler a entrevista com Rick Baker, conduzida por Lindsay Soll). Aliás, julgo que o aqui se reflecte é de natureza eminentemente involun-tária, mas altamente sintomática. A saber: há uma visão contemporânea dos filmes, visão todos os dias sustentada por um jornalismo que não pensa (ou pensa pouco), que promove um fascínio pueril pelos "efeitos especiais", pura e simplesmente ignorando o corpo vivo dos actores.
Em última instância, o actor é visto como matéria secundária, intermutável, sem corpo e sem alma. E essa visão faz escola, quer dizer, empurra-nos para uma adoração beata da "tecnologia", fazendo-nos menosprezar o factor humano, porventura demasiado humano, do próprio trabalho cinematográfico.