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Ao contrário dos ecos que chegaram de uma noite de nervosismo e sons por “afinar” no Porto, o concerto lisboeta dos Portishead foi celebração vivida tanto na plateia quanto no palco. Diferente da memória de 1998 no Sudoeste. Melhor que a noite no Sudoeste... Alinhamento perfeito, doseando as canções minimalistas do sublime
Third entre memórias de há dez anos. Som perfeito, voz de Beth Gibbons em grande forma, revelando um grupo com personalidade de palco distinta do que lhes conhecemos em disco, à pele e osso das canções acrescentando o calor da carne. Esta ideia é particularmente evidente nas canções do álbum a editar daqui a um mês, que, despidas à essência de uma ousada (e magnificamente concretizada) visão de uma música feita de quase nada, contudo intensa, se mostram em palco mais encorpadas, vivas. Isto sem retirar méritos ao registo em disco, que mostra como os Portishead encontraram, na sua demanda pelo som, uma nova forma de abordar a melancolia na canção, usando o ruído, a máquina, a textura, como elementos de protagonismo cénico em composições que concentram na voz a expressão maior da condução da melodia. A intensidade de
Machine Gun tirou dúvidas a quem eventualmente antes perguntava porque era tão “estranho” o novo single.
The Rip revelou-se perfeita junção de belos sonhos
folk, em registo pastoral, à carga metronómica do vai vem pendular da existência urbana. Belas versões, sobretudo das memórias dos dias de
Dummy, algumas (como
Mysterons) a ganhar alguma da alma minimalista do novo
Third... Arrepiante o curto ensaio de canto lírico nas notas finais de
Wandering Star. Uma noite com conta peso e medida. Sem canções a mais. Sem tempo a menos... Certamente um dos concertos do ano!