A "sinopse geral" da mais recente telenovela da TVI começa assim:
"Beatriz morre em África, numa situação muito confusa e polémica. O marido, Rafael, terá tido culpa? Sabemos que com ele estava a sua amante, Catarina. Mantinha com ela um romance há muito tempo e que era conhecido da maior parte dos amigos e das pessoas que com eles lidava. Terá sido Catarina conivente na morte de Beatriz? "
O mesmo texto conclui:
"Esta é uma história que joga sobretudo com os sentimentos de pessoas que encaram a vida de forma diferente. Tendo como cenário zonas fantásticas de África, a beleza pura e selvagem do Nordeste Transmontano, ou locais paradisíacos da Grande Lisboa, A OUTRA não vai deixar ninguém indiferente."
Os sentimentos de pessoas que encaram a vida de forma diferente — que psicologia "de bolso" é esta? Como é possível que se tenha chega a este ponto de banalização dramática e indigência dramatúrgica? Mais do que isso: como é que ainda se promove a degradação estética (e anti-cinematográfica) da telenovela com banalidades como "os locais paradisíacos da Grande Lisboa"?
"Beatriz morre em África, numa situação muito confusa e polémica. O marido, Rafael, terá tido culpa? Sabemos que com ele estava a sua amante, Catarina. Mantinha com ela um romance há muito tempo e que era conhecido da maior parte dos amigos e das pessoas que com eles lidava. Terá sido Catarina conivente na morte de Beatriz? "
O mesmo texto conclui:
"Esta é uma história que joga sobretudo com os sentimentos de pessoas que encaram a vida de forma diferente. Tendo como cenário zonas fantásticas de África, a beleza pura e selvagem do Nordeste Transmontano, ou locais paradisíacos da Grande Lisboa, A OUTRA não vai deixar ninguém indiferente."
Os sentimentos de pessoas que encaram a vida de forma diferente — que psicologia "de bolso" é esta? Como é possível que se tenha chega a este ponto de banalização dramática e indigência dramatúrgica? Mais do que isso: como é que ainda se promove a degradação estética (e anti-cinematográfica) da telenovela com banalidades como "os locais paradisíacos da Grande Lisboa"?
Olha-se para os cartazes e o efeito é terrível: os actores serão "melhores" ou "piores" (além de que é intocável o seu direito, profissional e cívico, a ganharem a sua vida), mas o certo é que passaram a existir submetidos a uma iconografia letal. Parecem clones, robots restaurados daquilo que, idealmente, já teve a ver, algures, com algum desejo de representar. Aqui, não há desejo — e isso é sempre assustador.
Se não é permitido fazer publicidade ao tabaco, porque é que se encara como "natural" esta hiper-abundância de cartazes, esta ocupação do espaço social quotidiano por tamanha mediocridade iconográfica? Ninguém pensa os efeitos endémicos desta vulgarização dos olhares? Ou, se for caso disso, quem avança e defende a ideia de que as imagens são indiferentes e os olhares não têm importância? Está aí alguém?...