Ainda o cinema português.
Esta semana estrearam-se dois filmes — Lobos, de José Nascimento [imagem do respectivo site, em cima], e The Lovebirds, de Bruno de Almeida [cartaz, em baixo] — que, curiosamente, parecem escapar a essa maldição que consiste em serem pré-avaliados em função das respectivas "expectativas" de bilheteira. Não é um pormenor secundário. Porquê? Porque a ideologia televisiva dominante todos os dias nos pressiona no sentido de entendermos a vida das imagens e sons a partir de índices meramente quantitativos e, mais especificamente, de "audiências" amorfas e ditatoriais.
Esta semana estrearam-se dois filmes — Lobos, de José Nascimento [imagem do respectivo site, em cima], e The Lovebirds, de Bruno de Almeida [cartaz, em baixo] — que, curiosamente, parecem escapar a essa maldição que consiste em serem pré-avaliados em função das respectivas "expectativas" de bilheteira. Não é um pormenor secundário. Porquê? Porque a ideologia televisiva dominante todos os dias nos pressiona no sentido de entendermos a vida das imagens e sons a partir de índices meramente quantitativos e, mais especificamente, de "audiências" amorfas e ditatoriais.
O que importaria — de facto, o que importa — discutir não é apenas o "valor" de cada filme, sempre volátil e subjectivo (nesse aspecto, considero Lobos uma oportunidade perdida para tratar uma história incestuosa, mesmo se é verdade que a abordagem dos cenários naturais deixa uma sugestão da dimensão trágica que o filme poderia ambicionar; quanto a The Loverbids, para além das intensidades desiguais da sua ficção fragmentária, creio que estamos perante uma proposta muito consistente de revisão/reconversão do imaginário romanesco de Lisboa, tanto mais que Bruno de Almeida se confirma um excelente director de actores). Importa discutir a imagem pública dos filmes, em particular, e do cinema português, em geral.
Assim, eis alguns temas que, a meu ver, valeria a pena considerar ou reconsiderar:
1 — a criação de um sistema, articulado com as televisões, de promoção/divulgação dos filmes, isto é, de todos os filmes;
2 — a diversificação das formas de produção, em estreita ligação com as televisões, de forma a que a "telenovela" e a "série" mais ou menos telenovelesca deixassem de ser os modelos dominantes do audiovisual (tanto em termos narrativos como económico-financeiros);
3 — a multiplicação de outros modelos de produção — do Estado aos privados, do financiamento oficial ao mecenato particular, da película ao digital — que permita alargar o campo de alternativas e também, desse modo, fazer crescer o número de filmes produzidos.
Num país que vive mediatico-dependente de uma informação televisiva que todos os dias fabrica tragédias a partir de fait divers — enquanto ignora as grandes questões culturais —, não será fácil discutir/pensar/repensar tudo isso. Estranhamente (ou não), pelo seu comportamento e, sobretudo, pela sua salutar curiosidade, cada espectador tem também uma palavra simbólica a dizer.