Poder metafórico do cinema: em No Vale de Elah, de Paul Haggis, Tommy Lee Jones procura o filho (que regressou de uma missão no Iraque e não reapareceu em casa) — é uma saga familiar que, de um momento para outro, se transfigura em deriva interior da própria nação. Compreendemos que há uma solidão americana feita de muitas solidões, gerada e consolidada nesse desamparo com que cada um se descobre estrangeiro no seu próprio país. Raras vezes um filme sabe ser tão político, isto é, tão colado à questão vital do lugar que ocupamos (com os outros e para os outros). Haggis fez um filme radical sobre uma América que já não se aquieta nas suas próprias crenças e mitologias — cruel, cortante e de um desespero sem fim, ou seja, um filme de amor pelo seu país.