Certezas da improvisação, sobressaltos das narrativas — foi uma noite (20 Fev.) maravilhosamente paradoxal no Grande Auditório da Culturgest: o trompetista polaco Tomasz Stanko veio apresentar o seu mais recente álbum (Lontano), num concerto tecido de um gosto quase sinfónico em que as várias peças tocadas mais pareciam uma antologia de andamentos ao serviço de uma mesma vontade de colocar em palco essa utopia branda: a de uma certeza ambígua que nasce da possibilidade de tudo acontecer.
Dir-se-ia que o quarteto de Stanko é, no seu limite mais austero, um duo de trompete e piano, de tal modo a presença multifacetada do pianista Marcin Wasilewski se revela essencial no esplendor dos resultados. Claro que colocar as coisas nestes termos envolve uma forte injustiça em relação aos brilhantes Slawomir Kurkiewicz (contrabaixo) e Michal Miskiewicz (bateria). Em todo o caso, as deambulações do trompete e as respostas pudicas, mas sempre concisas, do piano foram as mais imediatas responsáveis pela beleza contida que encheu a noite — apenas uma hora e meia (com um único encore), directo ao essencial.
PS - Recomenda-se vivamente o texto do programa, da autoria de Manuel Jorge Veloso, para já não disponível no site da Culturgest.