quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Alain Robbe-Grillet (1922 - 2008)


Morreu o homem que escreveu o argumento de O Último Ano em Marienbad (1961), de Alain Resnais. Mas será que aquela "história" ainda era um argumento?... A pergunta, de curiosidade ou provocação, transfigurou-se em germe de todo um edifício teórico que, de uma maneira ou de outra, marcou o cinema das novas vagas e respectivas descendências.
Mestre do nouveau roman, autor de títulos emblemáticos como Les Gommes (1953) ou Le Voyeur (1955) Alain Robbe-Grillet faleceu na segunda-feira, dia 18. Na literatura e no cinema, foi sempre um militante activíssimo do projecto de discussão e superação das mais clássicas matrizes narrativas, sendo o filme de Resnais um dos momentos mais puros dessa modernidade (com alguma ironia, não podemos deixar de referir que, nos Oscars referentes a 1963, Marienbad traria a Robbe-Grillet uma nomeação na categoria de melhor argumento original). Os seus filmes mais importantes passaram nos anos 70 em Portugal, nomeadamente Glissements Progressifs du Plaisir (1974), inevitável símbolo da abertura do mercado aos temas "eróticos".
Se é possível resumir numa ideia simples a herança de Robbe-Grillet, talvez possamos considerar que o seu labor celebra o abandono da psicologia clássica para privilegiar a abstracção potencial das formas. O seu derradeiro livro, Un Roman Sentimental, foi publicado em 2007 — é, segundo as suas palavras, "um conto de fadas para adultos".

Delphine Seyrig em O Último Ano em Marienbad (1961)