Este texto foi publicado na revista Op (nº25, Inverno 2007), com o título 'Dentro e fora da televisão' >>> Qual é a coisa qual é ela... que começou como série televisiva, há mais de meio século, e ainda hoje persiste como fenómeno de culto e popularidade, podendo ser regularmente redescoberta em canais de televisão de todo o mundo, no mercado do DVD ou até mesmo na secção de filmes do iTunes? A resposta não possui nada de misterioso, até porque envolve uma personalidade tão conhecida e emblemática como Alfred Hitchcock (1899-1980): é a série Alfred Hitchcock Apresenta, originalmente emitida nos canais americanos CBS (1955-1964) e NBC (1964-1965).
Se fossem necessárias provas para demonstrar como o epíteto de “mestre do suspense” é escasso para definir a pluralidade criativa do autor de Suspeita, Janela Indiscreta e Os Pássaros, esta bastaria. De facto, no turbilhão industrial dos anos 50, com os estúdios de Hollywood a questionar os seus próprios fundamentos clássicos, Hitchcock foi dos primeiros a ter a percepção clara das potencialidades artísticas e financeiras do meio televisivo. Produzidos ao longo do seu período de maior e mais sistemático fulgor criativo, os 270 episódios de Alfred Hitchcock Apresenta são a prova exuberante de como a televisão pode funcionar como parceiro próximo dos temas e linguagens do cinema, ao mesmo tempo servindo de espaço experimental com peculiares condições de fabricação (maior rapidez de rodagem, meios proporcionalmente mais limitados).
Agora que surgem no mercado do DVD as duas primeiras temporadas da série (duas caixas com 39 episódios cada; ed. Universal), importa sublinhar e, mais do que isso, revalorizar a agilidade hitchcockiana. Ele conseguiu, afinal, rentabilizar ao máximo os recursos da “idade de ouro” da televisão, a ponto de podermos encontrar em muitos episódios de Alfred Hitchcock apresenta alguns talentos que vinham do espaço específico do cinema clássico ou que, em pouco tempo, se transformariam em verdadeiras estrelas. Lembremos, por exemplo, a participação de actores como Joseph Cotten, Jo Van Fleet, Peter Lorre, Vincent Price ou Claude Rains, a par de John Cassavetes, Charles Bronson, Joanne Woodward, Barbara Bel Geddes ou Robert Redford. Entre os realizadores, também por lá passaram nomes como Arthur Hiller, Stuart Rosenberg ou Robert Altman.
Obviamente, são os 17 episódios dirigidos pelo próprio Hitchcock que constituem o capítulo mais fascinante destas memórias (mesmo se é verdade que o rigor das suas matrizes narrativas confere ao todo um equilíbrio invulgar). O primeiro, Revenge/Vingança, serviu de lançamento oficial da série, tendo sido originalmente emitido a 2 de Outubro de 1955; foi a primeira vez que Vera Miles trabalhou com Hitchcock, vindo depois a integrar o elenco de O Falso Culpado (1956) e Psico (1960). Antes de cada episódio, a apresentação estava a cargo do próprio Hitchcock, num misto de elegância e sarcasmo cuja pertinência não se perdeu: ele era capaz de celebrar as virtudes de uma boa história, ao mesmo tempo desmontando as convenções do próprio meio televisivo.
Se fossem necessárias provas para demonstrar como o epíteto de “mestre do suspense” é escasso para definir a pluralidade criativa do autor de Suspeita, Janela Indiscreta e Os Pássaros, esta bastaria. De facto, no turbilhão industrial dos anos 50, com os estúdios de Hollywood a questionar os seus próprios fundamentos clássicos, Hitchcock foi dos primeiros a ter a percepção clara das potencialidades artísticas e financeiras do meio televisivo. Produzidos ao longo do seu período de maior e mais sistemático fulgor criativo, os 270 episódios de Alfred Hitchcock Apresenta são a prova exuberante de como a televisão pode funcionar como parceiro próximo dos temas e linguagens do cinema, ao mesmo tempo servindo de espaço experimental com peculiares condições de fabricação (maior rapidez de rodagem, meios proporcionalmente mais limitados).
Agora que surgem no mercado do DVD as duas primeiras temporadas da série (duas caixas com 39 episódios cada; ed. Universal), importa sublinhar e, mais do que isso, revalorizar a agilidade hitchcockiana. Ele conseguiu, afinal, rentabilizar ao máximo os recursos da “idade de ouro” da televisão, a ponto de podermos encontrar em muitos episódios de Alfred Hitchcock apresenta alguns talentos que vinham do espaço específico do cinema clássico ou que, em pouco tempo, se transformariam em verdadeiras estrelas. Lembremos, por exemplo, a participação de actores como Joseph Cotten, Jo Van Fleet, Peter Lorre, Vincent Price ou Claude Rains, a par de John Cassavetes, Charles Bronson, Joanne Woodward, Barbara Bel Geddes ou Robert Redford. Entre os realizadores, também por lá passaram nomes como Arthur Hiller, Stuart Rosenberg ou Robert Altman.
Obviamente, são os 17 episódios dirigidos pelo próprio Hitchcock que constituem o capítulo mais fascinante destas memórias (mesmo se é verdade que o rigor das suas matrizes narrativas confere ao todo um equilíbrio invulgar). O primeiro, Revenge/Vingança, serviu de lançamento oficial da série, tendo sido originalmente emitido a 2 de Outubro de 1955; foi a primeira vez que Vera Miles trabalhou com Hitchcock, vindo depois a integrar o elenco de O Falso Culpado (1956) e Psico (1960). Antes de cada episódio, a apresentação estava a cargo do próprio Hitchcock, num misto de elegância e sarcasmo cuja pertinência não se perdeu: ele era capaz de celebrar as virtudes de uma boa história, ao mesmo tempo desmontando as convenções do próprio meio televisivo.