terça-feira, janeiro 29, 2008

Alexandre Desplat: música & cinema

Está a chegar (quinta-feira) um daqueles filmes "polémicos" cuja agitação circundante, felizmente, se tem dissolvido no mais banal vazio mediático: trata-se de Lust, Caution — lançado entre nós como Sedução, Conspiração —, uma realização de Ang Lee centrada na paradoxal relação amorosa entre um alto funcionário (Tony Leung) do governo fantoche da China, em 1942 durante a ocupação japonesa, e uma jovem (Way Tang) que, ao serviço da resistência, se insinua na sua vida privada. As cenas de sexo suscitaram a agitação de alguns paladinos da "pureza" das imagens e dos nossos pensamentos — questão rapidamente ultrapassada, não só pela pertinência dramática de tais cenas, mas também pela sua beleza tecida de crueldade e pudor.
Dito isto, vale a pena referir que Lust, Caution confirma também a singularidade do francês Alexandre Desplat no actual panorama dos compositores de música para cinema: a sua banda sonora original é um brilhante exercício de nostalgia e reinvenção, por um lado remetendo para um depurado classicismo, por outro lado induzindo um subtil distanciamento dramático e emocional.
Na produção francesa, desde a década de 1990, Desplat tinha já uma significativa carreira, nomeadamente como colabora-dor dos filmes de Jacques Audiard. Em poucos anos — digamos a partir da banda sonora de Rapariga com Brinco de Pérola (2003), de Peter Webber —, Desplat impôs-se internacionalmente, assinando uma pequena obra-prima de inesperada mé-trica e delicada contenção formal para Birth (2004), de Jonathan Glazer, com Nicole Kidman.
Em 2006, O Véu Pintado [cartaz], de John Curran, valeu-lhe o Globo de Ouro de melhor banda sonora, e A Rainha, de Stephen Frears, a primeira nomeação para o Oscar. Agora, Lust, Caution é, decididamente, um filme para ver e... escutar (uma curiosidade: numa das peças da nova banda sonora, Nanjing Road, o intérprete ao piano é o próprio Ang Lee).