quarta-feira, dezembro 12, 2007

Em conversa: Okkervil River

Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Will Sheff, vocalista e principal compositor dos Okkervil River, o recente álbum The Stage Names estando, naturalmente, no centro das atenções.

The Stage Names, o vosso novo disco, revela uma série de reflexões sobre o sentido que a arte pode hoje ter na vida de cada um. Não é uma temática habitual em clima rock’n’roll...
Acho que as pessoas têm uma relação muito viva e atenta com os media. Vivemos num mundo invadido pela televisão, pela publicidade, o cinema e canções pop. Através dos media as pessoas adquiriram gostos mais sofisticados. Mas, ao mesmo tempo, podemos estar muito atentos a uma coisa, conghecê-la a fundo, e reagir com surpresa e maravilha a outras coisas que não conhecemos. Seja ao ver um filme ou a escutar uma canção que nunca se tinha ouvido antes.
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Reconhece a presença de uma ideia de arte na música que se faz hoje em dia?
Não sei... Há bandas contemporâneas de que gosto muito, assim como muitas outras que me não interessam. Só o tempo nos dirá o que é bom e o que é lixo. Como vemos hoje com as bandas dos anos 80. Só o tempo o dirá. Pessoalmente tenho escutado mais música antiga. Mas há muito boa música a fazer-se hoje em dia.

Com se relacionam, para si, a noção de arte e a de comércio (dessa mesma arte)?
Há pouco tempo estivémos em Florença. É uma cidade incrivelmente bela, com obras de arte por todo o lado. E ficamos com a ideia de estar num outro tempo... Somos espiritualmente elevados a outro patamar. Mas quando nos apercebemos que, naquelas igrejas, naquelas pinturas, se reflectem imagens dos patronos, de homens ricos que pagaram muito dinheiro a estes artistas, verificamos que a arte, na verdade, nunca esteve afastada do comércio.

A cultura pop costuma apontar Warhol como paradigma de um certo tipo de relação saudável entre a arte e o comércio...
É interessante reparar que, a dada altura, o expressionismo abstracto se tinha tornado tão aborrecido... Aquela coisa macho, chauvinista, muito séria, sem sentido de humor... Warhol mostrou que a arte poderia não precisava de ter aquele ego... Que podia ter uma outra leveza, até mesmo quando se usam imagens de uma cadeira eléctrica. Acredito que não se pode nunca ser 100 por cento puro. Mas também sei que a arte pode ser manipulada de uma forma sinistra. Vejamos a arte ligada à publicidade, por exemplo. Há anúncios espantosos. Os grandes anúncios são criados por pessoas muitíssimo talentosas, que “conspiram” para criar sensações. A sensação não é uma de bem estar, de contemplação pelo belo, de descoberta, mas sim uma sensação de querer comprar algo. A publicidade, por isso, pode ser sinistra. Acredito que há enormes potencialidades, contudo, na forma como Warhol encarou as coisas.
(continua amanhã)