quarta-feira, dezembro 19, 2007

Em conversa: Nick Mason (1)

Iniciamos hoje a apresentação da versão integral de uma entrevista com Nick Mason, o baterista dos Pink Floyd, publicada dia 17 de Dezembro nas páginas centrais do DN.

Como é uma pequena banda underground se transformou no fenómeno de dimensão global?
Creio que não há uma explicação simples e única para o que nos aconteceu. Para justifucar o sucesso há que pensar em vários elementos. Isto para qualquer banda. No caso dos Beatles, por exemplo, há a escrita das canções. Tinham belas melodias. Mas depois faltam outras coisas, como, por exemplo, a sorte. E podemos dizer que a sorte tem a ver com o facto de se estar no local certo na hora certa. Os Beatles, cinco anos antes, não teriam acontecido. E cinco anos depois não teriam tomado o mundo da mesma forma. Parte do que aconteceu connosco tem muito a ver com uma questão de timing. Viémos depois dos Beatles, que abriram o caminho para uma maior relevância do conceito de álbum. Chegámos naquela fase de finais de 60, com aquilo que eu designaria como um rock’n’roll mais intelectual... As letras tinham começado a falar de assuntos mais além das histórias de amor juvenil...

Mas temos de reconhecer dois tempos de sucesso nos Pink Floyd. O aplauso da crítica, logo em 1967 e, só mais tarde, o verdadeiro fenómeno de vendas de discos.
É verdade. E talvez a forma como as coisas foram acontecendo, nessa escada, que permitiram o que se passou. Houve um processo de crescimento, muito orgânico, que evitou que acabássemos como tantos one hit wonders...

Em 1966 e 67 os Pink Floyd eram o rosto do que acontecia no underground rock’n’roll britânico...
Sem dúvida... Havia os Soft Machine, mas eram diferentes dos Pink Floyd. Até porque nós estávamos a ser transformados numa banda com potencialidades comerciais. Havia um investimento da EMI. E os Soft Machine não editavam singles...

Ao contrário dos Pink Floyd...
Sim, estávamos a tentar chegar ao Top Of The Pops!

Era vontade do grupo ou da editora essa demanda pelo sucesso?
Não faz sentido uma banda de rock’n’roll pensar que está a fazer arte! É quase uma tolice pensar o contrário, porque envolve também uma operação comercial.

Todavia, 40 anos depois, The Piper At The Gates Of Dawn é um disco sobretudo reconhecido pelos seus feitos artísticos...
Sim, da mesma forma que aconteceu com o Sgt Peppers. São verdadeiras contruções... O Sgt Peppers, sobretudo, é uma verdadeira combinação de canções. Não há uma que se destaque das outras e da qual nós possamos afirmar que é a melhor do álbum.

Foi por esse motivo que não extraíram nenhum single de Piper At The Gates of Dawn?
Precisamente.

O disco tinha várias personalidades e persogens em si...
Era uma mistura de acontecimentos. Tinha, por um lado, todo aquele experimentalismo ligado ao psicadelismo e, por outro, um sentido pastoral, rural, muito inglês, muito de Cambridge...

40 anos depois podemos verificar que o álbum de afirmou como um marco do seu tempo...
Confesso que muitas vezes fico surpreendido pela forma como o álbum tem sobrevivido. Há alguns meses falava sobre o disco, quando foi assinalado o seu 40º aniversário. E fiz uma experiência com alguém da editora, perguntando-lhe o que tinha acontecido 40 anos antes de Piper... E verificámos que era o Al Jolson! Era 1927, um outro mundo... Mas 40 anos depois de 67, o facto é que ainda é um disco que se ouve muito bem!

Os Pink Floyd teriam sido uma banda diferente se Syd Barrett tivesse continuado no grupo?
Sim, creio que teria sido diferente. Até porque o Roger teria levado mais tempo a encontrar-se a si mesmo. Mas não sei... Na verdade talvez o Roger já estava apontado ao caminho que tomou... Mas seria difeerente... Como nos Genesis. Se o Peter [Gabriel] não tivesse saído, o Phil [Collins] nunca teria avançado. Talvez nunca tivesse chegado mesmo a saír detrás da bateria.

Os Pink Floyd de 1967 eram a banda de Syd Barrett, como os Rolling Stones de então eram, também, a banda de Brian Jones?
Sim, claramente. Todos sentíamos que aquele disco era, não bem um disco do Syd, porque foi feito por uma banda. Mas ele era ocompositor e o homem da linha da frente.
(continua amanhã)