Em Portugal, qual o futuro das relações cinema/televisão? E como é que o caso Call Girl nos pode (ou não) ajudar a pensar esse futuro? — este texto foi publicado na revista de televisão do Diário de Notícias (28 Dez.), com o título ' "Call Girl": uma oportunidade" >>>
O ano televisivo de 2007 termina sob o signo do... cinema! É certo que os horários nobres dos canais generalistas continuam a marginalizar os objectos cinematográficos (a passagem na SIC, no dia de Natal, a partir das 21h00, de A Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg, sobrou como uma honrosa excepção). Mais do que isso: o ano televisivo termina sob o signo do cinema... português! Isto sem esquecer que as telenovelas, e todas as suas derivações, continuam a ser o modelo de eleição das programações. Mas o facto aí está: Call Girl, de António-Pedro Vasconcelos, estreia-se com o patrocínio da TVI (também uma das suas entidades coprodutoras).
Não é caso único, como é óbvio. Ao longo dos anos, a RTP tem mantido um apoio regular à maioria dos títulos que se vão fazendo em Portugal, enquanto a SIC tem também no seu historial exemplos de relação criativa com alguns filmes portugueses. Seja como for, o caso merece ser sublinhado, quanto mais não seja porque acontece numa conjuntura em que a simples sobrevivência económica do cinema português não está garantida.
O problema não é de hoje. É mesmo um drama que os ventos novos de 1974 permitiram superar, mas cuja solução permanece adiada. Que nos falta? Gente com talento e criatividade? Claro que não. Condições históricas e patrimoniais para fazer um cinema com identidade própria? Também não. Capacidade técnica e artística de utilizar os mais sofisticados recursos de fabricação dos filmes? Bem pelo contrário.
Falta-nos, isso sim, uma classe política com a coragem elementar de sentar a uma mesma mesa todos os agentes do cinema e da televisão, fazendo-lhes ver duas coisas muito simples: primeiro, que a retórica do “digital” e das novas “plataformas” não significa o esmagamento do cinema pelos padrões (económicos e narrativos) da televisão; segundo, que é preciso criar condições para a estabilização financeira da produção cinematográfica, não apesar das televisões, mas porque isso pode ser também financeiramente interessante para essas mesmas televisões.
Seja qual for o juízo de valor que possa suscitar a cada um, Call Girl é uma boa oportunidade para resolver tais problemas. Esperemos que não seja a confirmação da regra que faz da história do cinema português uma história de oportunidades perdidas.
O ano televisivo de 2007 termina sob o signo do... cinema! É certo que os horários nobres dos canais generalistas continuam a marginalizar os objectos cinematográficos (a passagem na SIC, no dia de Natal, a partir das 21h00, de A Guerra dos Mundos, de Steven Spielberg, sobrou como uma honrosa excepção). Mais do que isso: o ano televisivo termina sob o signo do cinema... português! Isto sem esquecer que as telenovelas, e todas as suas derivações, continuam a ser o modelo de eleição das programações. Mas o facto aí está: Call Girl, de António-Pedro Vasconcelos, estreia-se com o patrocínio da TVI (também uma das suas entidades coprodutoras).
Não é caso único, como é óbvio. Ao longo dos anos, a RTP tem mantido um apoio regular à maioria dos títulos que se vão fazendo em Portugal, enquanto a SIC tem também no seu historial exemplos de relação criativa com alguns filmes portugueses. Seja como for, o caso merece ser sublinhado, quanto mais não seja porque acontece numa conjuntura em que a simples sobrevivência económica do cinema português não está garantida.
O problema não é de hoje. É mesmo um drama que os ventos novos de 1974 permitiram superar, mas cuja solução permanece adiada. Que nos falta? Gente com talento e criatividade? Claro que não. Condições históricas e patrimoniais para fazer um cinema com identidade própria? Também não. Capacidade técnica e artística de utilizar os mais sofisticados recursos de fabricação dos filmes? Bem pelo contrário.
Falta-nos, isso sim, uma classe política com a coragem elementar de sentar a uma mesma mesa todos os agentes do cinema e da televisão, fazendo-lhes ver duas coisas muito simples: primeiro, que a retórica do “digital” e das novas “plataformas” não significa o esmagamento do cinema pelos padrões (económicos e narrativos) da televisão; segundo, que é preciso criar condições para a estabilização financeira da produção cinematográfica, não apesar das televisões, mas porque isso pode ser também financeiramente interessante para essas mesmas televisões.
Seja qual for o juízo de valor que possa suscitar a cada um, Call Girl é uma boa oportunidade para resolver tais problemas. Esperemos que não seja a confirmação da regra que faz da história do cinema português uma história de oportunidades perdidas.