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O disco deu-lhes os seus dois primeiros Grammys, os dois primeiros singles no número um da tabela americana, capa na Time, vendas na ordem dos mais de 20 milhões (só metade nos EUA) e motivou uma digressão, a primeira da banda por estádios, que amplificou os efeitos que o álbum lançara. The Joshua Tree, contudo, não foi um acaso. A sua história começa no Verão de 1985, dias depois da muito bem sucedida passagem do grupo pelo Live Aid. Bono, a voz do grupo, e a sua mulher, Ali, passam um mês na Etiópia. Sem publicidade, dedicaram o seu tempo a um projecto educacional. Meses depois, em Dublin, actuam no Self Aid. E, mais tarde, rumam aos EUA para ser cabeças de cartaz da digressão de beneficência A Conspiracy Of Hope, que assinalava os 25 anos da Amnistia Internacional. Os confrontos que vivia o mundo real, enfatizados por uma posterior viagem a El Salvador e à Nicarágua, motivaram o ser político que já morava na consciência de Bono, mas até então ainda com poucas manifestações, salvo em pontuais canções. A esta inquietude, somou-se o confronto com a América profunda que descobrem, com mais atenção, durante a digressão com a Amnistia Internacional. Uma América que não era dos filmes do velho oeste mas, como o baixista Adam Clayton descreveria mais tarde a um programa do VH-1, a dos dias de Reagan.
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Este clima emocional, mais sombrio, chega à sala de ensaios do grupo num tempo em que Bono e The Edge, o guitarrista, optam por uma escrita mais clássica e convencional, afastando-se assim do veio pós-punk que os vira nascer. A América, a da música, dos blues, do gospel, de Bob Dylan e Patti Smith, recentemente descoberta pela banda, assim como a América dos livros de Tennessee Williams, de Flannery O’Connor, de Norman Mailer e Raymond Carver, que então liam em viagem, ganhou também expressão nas canções que começavam a nascer. Canções que contam uma história, partindo do deserto, em Where The Streets Have No Name, repensa uma visão da América em Bullet The Blue Sky, evoca conflitos alguns milhares de quilómetros a Sul (no Chile) em Mothers Of The Disapeared e regressa aos seus terrenos já conhecidos em Running To Stand Still ou Red Hill Mining Town. Uma história que não se faz apenas dos factos que se observam e comentam, mas também das reflexões de Bono, seja no debate dos medos que o amor encerra em With Or Without You, nas tentações de Trip Through The Wires, na memória de um amigo perdido em One Tree Hill. Imortalizado por uma capa na qual uma a banda é revelada numa foto de Anton Corbijn tirada no Vale da Morte (Califórnia), e não junto da “verdadeira” Joshua Tree, em Palm Springs, este tornou-se um marco na história dos U2, na da música dos anos 80 e será, certamente, recordado um dia como um dos discos de referência da história do rock’n’roll.
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A edição comemorativa dos 20 anos de Joshua Tree surge em vários formatos, do mais simples CD com som remasterizado ao “pacote” de luxo que junta ao álbum um CD de extras e um DVD. No CD reúnem-se os temas editados como lados B dos diversos singles extraídos de The Joshua Tree, entre os quais temas como a versão original de Sweetest Thing ou Spanish Eyes. Além de lados B recolhem-se temas associados a estas sessões de gravação, como a colaboração com Keith Richards e Ron Wood, dos Rolling Stones, em Silver and Gold. Além do CD, esta edição inclui um DVD revela um concerto da Joshua Tree Tour gravado em Paris em Julho de 1987. Como extras, o DVD mostra um documentário de 40 minutos sobre a digressão, um teledisco alternativo para With Ot Without You e um outro, de Neil Jordan, para Red Hill Mining Town.
PS. Texto originalmente publicado no DN