Terceira jogada: reconverter o próprio conceito de personagem humana — não apenas olhar de outro modo, mas sentir, apenas pressentir, que o nosso novo mundo mediático é também o palco incrédulo, porventura inquietante, de uma revolução iconográfica e ontológica do humanismo.
Douglas Gordon e Philippe Parreno fazem um filme que, em última instância, se enreda nessa interrogação angustiada, mas eminen-temente didáctica: o homem, afinal, onde está? Ou ainda: que resta do humanismo que grita dos confins da história? O título — Zidane: Um Retrato do Século XXI — não tem por isso nada de forçadamente alegórico: trata-se de repensar o próprio conceito de retrato no nosso século XXI, na certeza de que, nesse processo, estamos a retratar o próprio século. Raros filmes merecem, como este, o epíteto de visionário — o futuro que nele vemos obriga-nos a reavaliar todo o nosso presente.