A imagem pode (apenas...) sugerir o pano de fundo do extra-ordinário concerto de Rufus Wainwright no Coliseu (6 Nov.) — era uma bandeira americana transfigurada a preto e branco, não com estrelas, mas jóias; as mesmas jóias, afinal, que ornamentavam o guarda-roupa de Rufus e dos seus músicos, numa associação ambiguamente simbólica, uma vez que essas eram as verdadeiras stars da cenografia, até mesmo na parte lateral do piano (não sendo banal o facto de as riscas vermelhas e brancas constituirem o padrão do fato que o cantor usou na primeira parte do espectáculo).
Embora com forte incidência nos temas do álbum Release the Stars, o espectáculo acabou por integrar duas outras decisivas componentes: algumas memórias dos álbuns anteriores (e voltar a ouvir Rufus, sozinho ao piano, a interpretar, por exemplo, Cigarettes and Chocolate Milk confronta-nos com uma intimidade genuinamente comoven-te) e a evocação do seu espectáculo sobre temas de Judy Garland. Este último aspecto, aliás, sendo o mais inesperado do concerto, serviu também para confirmar uma decisiva evolução: a voz de Rufus está mais densa e disciplinada do que nunca, cristalina no alcance e plena de espantosas modulações (melo)dramáticas. Além do mais, Rufus é um genuíno entertainer, sabendo combinar a auto-ironia com um admirável sentido de palco.
Embora com forte incidência nos temas do álbum Release the Stars, o espectáculo acabou por integrar duas outras decisivas componentes: algumas memórias dos álbuns anteriores (e voltar a ouvir Rufus, sozinho ao piano, a interpretar, por exemplo, Cigarettes and Chocolate Milk confronta-nos com uma intimidade genuinamente comoven-te) e a evocação do seu espectáculo sobre temas de Judy Garland. Este último aspecto, aliás, sendo o mais inesperado do concerto, serviu também para confirmar uma decisiva evolução: a voz de Rufus está mais densa e disciplinada do que nunca, cristalina no alcance e plena de espantosas modulações (melo)dramáticas. Além do mais, Rufus é um genuíno entertainer, sabendo combinar a auto-ironia com um admirável sentido de palco.
Poderíamos dizer que a utopia de um concerto assim seria o cantor aparecer de roupão branco para os seus encores e, mais do que isso, chamando a mãe (Kate McGarrigle) para, ao piano, interpretar com ele Over the Rainbow, o emblema perfeito da herança de Judy Garland (do filme O Feiticeiro de Oz, de 1939) — quem esteve no Coliseu sabe que, nestes tempos de pessimismo e fealdade, ainda há utopias que se concretizam.
PS - Duas notas (desnecessariamente) desagradáveis. Em primeiro lugar, telefona-se para o Coliseu a meio da tarde, pedindo confirmação da hora do concerto e dizem-nos que a primeira parte, com a banda Grey Race, começa às 21h15 — chega-se ao Coliseu alguns minutos antes das 21h00 e a primeira parte... já acabou! Segundo, um número considerável de espectadores não entra a horas e "vai chegando" durante as primeiras duas ou três canções de Rufus — assim se esquece que a pose do público também faz parte da eficácia, e até do profissionalismo, do espectáculo.
PS - Duas notas (desnecessariamente) desagradáveis. Em primeiro lugar, telefona-se para o Coliseu a meio da tarde, pedindo confirmação da hora do concerto e dizem-nos que a primeira parte, com a banda Grey Race, começa às 21h15 — chega-se ao Coliseu alguns minutos antes das 21h00 e a primeira parte... já acabou! Segundo, um número considerável de espectadores não entra a horas e "vai chegando" durante as primeiras duas ou três canções de Rufus — assim se esquece que a pose do público também faz parte da eficácia, e até do profissionalismo, do espectáculo.