Apesar de possuído por esse sonho chamado Joy Division, e por dedicar cada vez mais tempo a grandes conversas sobre livros, filosofias e ideias bizarras com Bernard Sumner, Ian ainda vive com entusiasmo a vida familiar. Deborah engravida e nove meses depois entra em cena a pequena Nathalie. Mas aquele 1978 é sobretudo um tempo de agitação criativa para Ian Curtis e banda. Assinam um acordo de management com Rob Gretton. Gravam um tema para o sampler de estreia da editora Factory de Tony Wilson, e acabam por descobrir casa editorial para sempre. No fim do ano, contudo, Ian tem o seu primeiro ataque epiléptico registado. Teimoso, só comparece a uma consulta de especialidade em finais de Janeiro de 1979, duas semanas depois de surgir pela primeira vez na capa do NME fumando um cigarro e depois de gravada uma primeira sessão para John Peel na BBC.
A personalidade maníaca de Ian não é mais uma novidade para os amigos e colegas, que já lhe conhecem a volatilidade temperamental e tendência depressiva. A eplilepsia contudo é um factor novo, e começa a atormentar os concertos. Ian era já conhecido por assumir em palco uma dança frenética, espasmódica, como que estilizando as convulsões características da doença. Porém, ao longo dos largos meses seguintes, os ataques deixam de ocorrer apenas depois de terminados os concertos, para se manifestarem ainda em palco. Mas, por enquanto, sem consequências trágicas. Medicado, Ian continua.A música da Joy Divison evolui sombria, já evidentemente caracterizada pela presença possante do baixo de Peter Hook. As letras, quadros de desespero emocional e ansiedade urbana pós-industrial, vincam essa negritude depressiva. Era já a expressão superficial da melancolia natural em Ian Curtis, mas colegas e muitos admiradores só descodificaram os sentidos mais profundos das palavras depois da sua morte.
(continua)