
Depois da difícil digestão do menor e equívoco
Sam’s Town, e antes mesmo de avançarem por um novo álbum de originais, os
The Killers propõem uma colecção de lados B e raridades. A ideia não é inédita, tendo bandas como os Suede ou Pet Shop Boys mostrado já como se aproveita, da melhor forma, o espaço menos mediático dos singles para apresentar canções que são importante complemento ao que nos dão no mais “nobre” espaço reservado aos álbuns. Convenhamos que, como nesses dois casos, a proposta dos Killers é plena de sentido, vários que são os exemplos aqui mostrados de canções que mereciam não acabar perdidas nas faces ocultas dos singles (até porque, no contexto actual, o single é um formato pouco “consumido” e muitas destas canções corriam o risco de ser votadas ao esquecimento). Contudo, o interesse de
Sawdust não se esgota nessa arqueologia de salvamento em 45 rotações que, sobretudo, revela em
Sweet Talk ou
Where The White Boys Dance sinais de sobrevivência das linguagens de
Hot Fuss já em plena era
Sam’s Town. Aos lados B, o disco junta leituras alternativas (e a nova versão de
Sam’s Town, minimalista, contida, esmaga a original) e alguns inéditos. Entre estes destaca-se a colaboração com Lou Reed em
Tranquilize (com curioso sabor a Bowie vingale) e duas versões. Uma delas, soberba, para
Shadowplay, da Joy Division, presente na banda sonora de
Control. A outra, apenas curiosa, transformando
Romeo & Juliet, dos enfadonhos Dire Straits.
The Killers
“Sawdust”Island / Universal
3/5Para ouvir:
MySpace 
Mais que lados B, os
Gorillaz fecham definitivamente a loja com aquilo que anunciam como uma antologia de... lados D! Basicamente,
D-Sides é um rapar do fundo do tacho, anunciada que está a desactivação do colectivo no departamento musical (havendo, todavia, sinais cada vez mais insistentes de uma eventual aventura no cinema). Aqui se concentram maquetes, versões alternativas,
outtakes das sessões do último álbum de originais, assim como, num segundo CD, uma colecção expressiva de remisturas (na qual não faltam os suspeitos do costume, dos Soulwax aos Hot Chip, sem esquecer a inevitável participação da “família” DFA... O mais interessante desta antologia de “sobras” é o constatar da invulgar versatilidade estilística de Damon Albarn, assim como, nas maquetes, um olhar curioso sobre os seus métodos de trabalho e, eventualmente, pontos de lançamento de ideias futuras (
Hong Kong, por exemplo, prenunciou o piscar de olho à música chinesa depois tomado como prioridade no espectáculo
Monkey: Jouyrney To The West, que se sucedeu já aos Gorillaz). Os The Bees colaboram em
Bill Murray. E Einar Orn (ex-Sugarcubes) em
Stop The Dams, versão “gorillaz” de uma canção de protesto islandesa. Há tropeções (claras sobras, leia-se) em
Rockit ou
Murdoc Is God... Mas, como nos demais discos do projecto, dub, electrónicas e hip hop circulam entre canções de alma pop/rock, revelando híbridos com sabor a hoje. E assim se fecha mais um capítulo na história do músico inglês mais versátil e criativamente mais bem sucedido dos últimos (quase) 20 anos.
Gorillaz
“D-Sides”
Parlophone / EMI Music Portugal
3/5Para ouvir:
MySpace..

Num ano de poucas surpresas na música portuguesa, assinale-se com agrado a estreia em álbum de
Sean Riley & The Slowriders. Apesar do nome, ele é português, hoje com residência em Coimbra. Através deste
alter ego, propõe-nos uma música simples, honesta, agradável e que, sem visar a revolução, dá pelo menos sinais de que nem todas as novidades pop/rock nacionais deste magro 2007 moram num beco sem saída.
Farewell, ao contrário do que o título possa sugerir, é antes um optimista “olá”... O disco reflecte um gosto peculiar por referências na canção de autor (Bob Dylan, Neil Young ou Will Oldham), mostra sinais de atenção e curiosidade pelos espaços da
folk, dos
blues e da
country, mas acrescenta uma vivência própria, que se justifica talvez por um período de trabalho de composição em cenário rural, ganhando também as canções a tranquilidade certamente sugerida, depois, em estúdio, no trabalho com o holandês Wout Straatman.
Farewell é um belo álbum de apresentação. Positivo, claro, directo. Aqui não faltam boas canções, que a voz e atitude instrumental sabem agarrar sem estragar. Resta apenas esperar por mais ousadia e pelo vincar de uma personalidade que, para já, indicia o melhor e abre o apetite para mais.
Farewell? No... Welcome!
Sean Riley & The Slowriders
“Farewell”NorteSul / Som Livre
3/5
Para ouvir:
MySpace 
O ano de 2007 tem sido invulgarmente farto em boas propostas nos campos da música electrónica. Da excelência dos híbridos de uns LCD Soundsystem e Chemical Brothers (regressados aos melhores dias) ao minimalismo tocante de uns The Filed ou Pantha du Prince, sem esquecer pragmatismos hard floor de uns Justice ou Digitalism, tem havido um pouco de tudo, em bom, para todos os gostos... O projecto
Boys Noize, do alemão (de 24 anos) Alex Ridha, identifica-se com o espaço vivido por estes dois últimos dois nomes citados. E, como eles, exibe claros sinais de veneração por modelos que descendem dos Daft Punk. Conhecido já por trabalhos de remistura para temas de nomes como os Bloc Party, Feist, Depeche Mode ou Kaiser Chiefs, Alex Ridha propõe aqui um manifesto de libertação para ritmo, movimento e sombras.
Oi Oi Oi é uma espécie de equivalente musical do conceito
slasher dos filmes de terror. Tem pontaria, age no tempo certo, acerta sempre, não poupa nada nem ninguém e, sobretudo, é explícito e visceral na sua abordagem aos objectivos que procura: a libertação pela dança. Brutais por vezes, sujas frequentemente, as composições são contudo pouco versáteis acabando por estimular mais as pernas que a mente que manda os músculos dançar.
& Down, a abrir, é irresistível.
Oh! evoca, além dos Daft Punk, os mestres Kraftwetrk. Mas, como álbum, Oi Oi Oi tem poucos mais argumentos para agarrar quem o escuta.
Boys Noize
“Oi Oi Oi”BoysNoize Records / Flur
2/5Para ouvir:
MySpaceTambém esta semana:
Daft Punk (live), The Bird and The Bee, Petrus Castrus (reedição)
Brevemente:
26 de Novembro: Jean Michel Jarre (reedição), Scissor Sisters (DVD), GNR (reedição), Jorge Palma (reedição), Tantra (reedição), Manuela Moura Guedes (reedição), Sheiks (antologia), Gorillaz (compilação), Live Earth, Ryan Adams (EP), Damien Rice, Nine Inch Nails, Whitest Boy Alive, Neil Young,
3 de Dezembro: Rufus Wainwright (CD + DVD – Judy Garland), Muse (live), U2 (reedição)
Dezembro: Johnny Greenwood, Radiohead, Montag,
PS. A crítica aos Duran Duran é uma versão editada de um texto integrado num dossier sobre o novo disco do grupo, publicado no DN