segunda-feira, novembro 19, 2007

Discos da semana, 19 de Novembro

Madonna, na hora certa, recorreu a William Orbit ou Stuart Price. E Jonnhy Cash e Neil Diamond a Rick Rubin... Ou seja, bater à porta de um produtor de perfil afirmativo e marcante é opção lícita no mundo da música pop (e não só). Porém, ao saber-se das presenças de Timbaland, do seu colaborador regular Nate ‘Danja’ Hills e de Justin Timberlake (que co-assina e canta em dois temas), muitos logo suspeitaram que, como tantos outras figuras no presente, também os Duran Duran se vergariam à lei do produtor mais cotado do momento. Porém, o que Red Carpet Massacre mostra não é uma deferente prova de vassalagem, mas antes o resultado de uma partilha frutuosa, na qual as técnicas e temperos de Timbaland (e sua entourage) se entenderam com a lógica de funcionamento e o sentido de canção pop de uma banda de personalidade há muito vincada. Isto para, no final, fazer deste o melhor álbum dos Duran Duran desde os seus dias de glória de inícios de 80 (em concreto, o melhor desde Rio, em 1982). Na verdade este não é um disco de ruptura, e muitas das ideias que escutamos nestas canções não reflectem mais que novas formas de abordagem, em diálogo atento com o presente, a velhas demandas já conhecidas na música dos Duran Duran. A sua relação com a música de dança remonta aos dias de Planet Earth, Girls on Film ou My Own Way, logo no seu ano de estreia discográfica em 1981. O interesse pela música negra (que pontua o disco) recorda-se, por exemplo, em Nororious ou Skin Trade... Red Carpet Massacre retoma ainda outra marca antiga dos Duran Duran: o gosto pelo desafio, uma certa ousadia formal que sempre fez com que o grupo, apesar do evidente sucesso mainstream, nunca tivesse abandonado as franjas da cultura alternativa que sempre tomou como referências. Depois de um regresso (mais mediático que musicalmente apelativo) em Astronaut, onde o grupo parecia mais atento ao jogo da cautela em terreno seguro, Red Carpet Massacre revela verdadeiro entusiasmo e renovada vontade em reclamar um ceptro na pop que já teve na banda indiscutíveis donos.
Duran Duran
“Red Carpet Massacre”
Epic / Sony BMG
4/5
Para ouvir: MySpace


Depois da difícil digestão do menor e equívoco Sam’s Town, e antes mesmo de avançarem por um novo álbum de originais, os The Killers propõem uma colecção de lados B e raridades. A ideia não é inédita, tendo bandas como os Suede ou Pet Shop Boys mostrado já como se aproveita, da melhor forma, o espaço menos mediático dos singles para apresentar canções que são importante complemento ao que nos dão no mais “nobre” espaço reservado aos álbuns. Convenhamos que, como nesses dois casos, a proposta dos Killers é plena de sentido, vários que são os exemplos aqui mostrados de canções que mereciam não acabar perdidas nas faces ocultas dos singles (até porque, no contexto actual, o single é um formato pouco “consumido” e muitas destas canções corriam o risco de ser votadas ao esquecimento). Contudo, o interesse de Sawdust não se esgota nessa arqueologia de salvamento em 45 rotações que, sobretudo, revela em Sweet Talk ou Where The White Boys Dance sinais de sobrevivência das linguagens de Hot Fuss já em plena era Sam’s Town. Aos lados B, o disco junta leituras alternativas (e a nova versão de Sam’s Town, minimalista, contida, esmaga a original) e alguns inéditos. Entre estes destaca-se a colaboração com Lou Reed em Tranquilize (com curioso sabor a Bowie vingale) e duas versões. Uma delas, soberba, para Shadowplay, da Joy Division, presente na banda sonora de Control. A outra, apenas curiosa, transformando Romeo & Juliet, dos enfadonhos Dire Straits.
The Killers
“Sawdust”

Island / Universal
3/5
Para ouvir: MySpace


Mais que lados B, os Gorillaz fecham definitivamente a loja com aquilo que anunciam como uma antologia de... lados D! Basicamente, D-Sides é um rapar do fundo do tacho, anunciada que está a desactivação do colectivo no departamento musical (havendo, todavia, sinais cada vez mais insistentes de uma eventual aventura no cinema). Aqui se concentram maquetes, versões alternativas, outtakes das sessões do último álbum de originais, assim como, num segundo CD, uma colecção expressiva de remisturas (na qual não faltam os suspeitos do costume, dos Soulwax aos Hot Chip, sem esquecer a inevitável participação da “família” DFA... O mais interessante desta antologia de “sobras” é o constatar da invulgar versatilidade estilística de Damon Albarn, assim como, nas maquetes, um olhar curioso sobre os seus métodos de trabalho e, eventualmente, pontos de lançamento de ideias futuras (Hong Kong, por exemplo, prenunciou o piscar de olho à música chinesa depois tomado como prioridade no espectáculo Monkey: Jouyrney To The West, que se sucedeu já aos Gorillaz). Os The Bees colaboram em Bill Murray. E Einar Orn (ex-Sugarcubes) em Stop The Dams, versão “gorillaz” de uma canção de protesto islandesa. Há tropeções (claras sobras, leia-se) em Rockit ou Murdoc Is God... Mas, como nos demais discos do projecto, dub, electrónicas e hip hop circulam entre canções de alma pop/rock, revelando híbridos com sabor a hoje. E assim se fecha mais um capítulo na história do músico inglês mais versátil e criativamente mais bem sucedido dos últimos (quase) 20 anos.
Gorillaz
“D-Sides”
Parlophone / EMI Music Portugal
3/5
Para ouvir: MySpace
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Num ano de poucas surpresas na música portuguesa, assinale-se com agrado a estreia em álbum de Sean Riley & The Slowriders. Apesar do nome, ele é português, hoje com residência em Coimbra. Através deste alter ego, propõe-nos uma música simples, honesta, agradável e que, sem visar a revolução, dá pelo menos sinais de que nem todas as novidades pop/rock nacionais deste magro 2007 moram num beco sem saída. Farewell, ao contrário do que o título possa sugerir, é antes um optimista “olá”... O disco reflecte um gosto peculiar por referências na canção de autor (Bob Dylan, Neil Young ou Will Oldham), mostra sinais de atenção e curiosidade pelos espaços da folk, dos blues e da country, mas acrescenta uma vivência própria, que se justifica talvez por um período de trabalho de composição em cenário rural, ganhando também as canções a tranquilidade certamente sugerida, depois, em estúdio, no trabalho com o holandês Wout Straatman. Farewell é um belo álbum de apresentação. Positivo, claro, directo. Aqui não faltam boas canções, que a voz e atitude instrumental sabem agarrar sem estragar. Resta apenas esperar por mais ousadia e pelo vincar de uma personalidade que, para já, indicia o melhor e abre o apetite para mais. Farewell? No... Welcome!
Sean Riley & The Slowriders
“Farewell”

NorteSul / Som Livre
3/5
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O ano de 2007 tem sido invulgarmente farto em boas propostas nos campos da música electrónica. Da excelência dos híbridos de uns LCD Soundsystem e Chemical Brothers (regressados aos melhores dias) ao minimalismo tocante de uns The Filed ou Pantha du Prince, sem esquecer pragmatismos hard floor de uns Justice ou Digitalism, tem havido um pouco de tudo, em bom, para todos os gostos... O projecto Boys Noize, do alemão (de 24 anos) Alex Ridha, identifica-se com o espaço vivido por estes dois últimos dois nomes citados. E, como eles, exibe claros sinais de veneração por modelos que descendem dos Daft Punk. Conhecido já por trabalhos de remistura para temas de nomes como os Bloc Party, Feist, Depeche Mode ou Kaiser Chiefs, Alex Ridha propõe aqui um manifesto de libertação para ritmo, movimento e sombras. Oi Oi Oi é uma espécie de equivalente musical do conceito slasher dos filmes de terror. Tem pontaria, age no tempo certo, acerta sempre, não poupa nada nem ninguém e, sobretudo, é explícito e visceral na sua abordagem aos objectivos que procura: a libertação pela dança. Brutais por vezes, sujas frequentemente, as composições são contudo pouco versáteis acabando por estimular mais as pernas que a mente que manda os músculos dançar. & Down, a abrir, é irresistível. Oh! evoca, além dos Daft Punk, os mestres Kraftwetrk. Mas, como álbum, Oi Oi Oi tem poucos mais argumentos para agarrar quem o escuta.
Boys Noize
“Oi Oi Oi”

BoysNoize Records / Flur
2/5
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Também esta semana:
Daft Punk (live), The Bird and The Bee, Petrus Castrus (reedição)
Brevemente:
26 de Novembro: Jean Michel Jarre (reedição), Scissor Sisters (DVD), GNR (reedição), Jorge Palma (reedição), Tantra (reedição), Manuela Moura Guedes (reedição), Sheiks (antologia), Gorillaz (compilação), Live Earth, Ryan Adams (EP), Damien Rice, Nine Inch Nails, Whitest Boy Alive, Neil Young,
3 de Dezembro: Rufus Wainwright (CD + DVD – Judy Garland), Muse (live), U2 (reedição)

Dezembro: Johnny Greenwood, Radiohead, Montag,

PS. A crítica aos Duran Duran é uma versão editada de um texto integrado num dossier sobre o novo disco do grupo, publicado no DN