N.G.: Quem, há pouco mais de uma semana viu, no mesmo Coliseu dos Recreios (Lisboa) o espantoso concerto
"shamânico" de Patti Smith dificilmente suporia que, em dias, aquela noite seria superada. O feito deve-se a Rufus Wainwright que, acompanhado por uma excepcional banda de oito elementos, não só deu à cidade provas de que, de visita em visita, cresce como artista performativo, como, na ocasião em concreto ali mostrou o que poderá vir a ser considerado como o concerto do ano.
Essencialmente centrado em Release The Stars (que se revela, afinal, um soberbo repertório para palco), com recorrentes visitas à sua própria memória (recordando, entre outros, temas como Danny Boy, Poses, Cigarettes and Chocolate Milk ou The Art Teacher), o concerto estava pensado com a estrutura de um espectáculo onde nada acontece por acaso. As canções, magnificamente cantadas e tocadas, são o cerne da questão. Mas o seu encadeamento, construído em dois actos mais “grand finale” e, claro, o entertainer sobre o palco, mostram que há mais a fazer num espectáculo que seguir um alinhamento de canções.
Rufus dá carne ao osso que são as canções. Fala frequentemente entre o que vai cantando, ora para relatar o regresso ao Museu dos Coches, para contar como foi o instante em que pediu água, em português, essa tarde, num café, ou para reflectir sobre o que entende ser um sentido de harmonia no urbanismo de Lisboa (a tese é dele mesmo...). Cereja sobre o bolo, o tempero Broadway trouxe o melhor da experiência recente com a homenagem de Judy Garland. Interpretou George Gershwin, Noel Coward e, quase no final, Somewhere Over The Rainbow, confirmando o grande cantor que hoje é. A reforçar esta ideia, um velho tema folk, em gaélico, foi cantado sem microfone.
Com quase três horas de duração (e foram tão intensas, que ninguém deu pelo tempo a passar), o concerto teve ainda direito ao Parabéns a Você, com bolo, ao baterista, duas canções com a mãe, Kate McGarrigle, ao piano e, claro o “grand finale”. De ligas, brincos e tailleur, ora para mais um número à la Broadway (e banda transformada em bailarinos) e Gay Messiah, a fechar. A plateia, cheia, que se levantara em aplausos mais vezes (e escutara em assombroso silêncio as canções mais suaves), agradeceu em peso e acenou satisfeita.
No final, o trovador (como se auto-intitulou em entrevista publicada terça-feira no DN) juntou-se à banda e, juntos, partiram (literalmente, ainda na mesma noite) para a cidade seguinte...
* Crítica de Nuno Galopim ao concerto de Rufus Wainwright no Coliseu, publicada no Diário de Notícias de 8 de Novembro.
"shamânico" de Patti Smith dificilmente suporia que, em dias, aquela noite seria superada. O feito deve-se a Rufus Wainwright que, acompanhado por uma excepcional banda de oito elementos, não só deu à cidade provas de que, de visita em visita, cresce como artista performativo, como, na ocasião em concreto ali mostrou o que poderá vir a ser considerado como o concerto do ano.
Essencialmente centrado em Release The Stars (que se revela, afinal, um soberbo repertório para palco), com recorrentes visitas à sua própria memória (recordando, entre outros, temas como Danny Boy, Poses, Cigarettes and Chocolate Milk ou The Art Teacher), o concerto estava pensado com a estrutura de um espectáculo onde nada acontece por acaso. As canções, magnificamente cantadas e tocadas, são o cerne da questão. Mas o seu encadeamento, construído em dois actos mais “grand finale” e, claro, o entertainer sobre o palco, mostram que há mais a fazer num espectáculo que seguir um alinhamento de canções.
Rufus dá carne ao osso que são as canções. Fala frequentemente entre o que vai cantando, ora para relatar o regresso ao Museu dos Coches, para contar como foi o instante em que pediu água, em português, essa tarde, num café, ou para reflectir sobre o que entende ser um sentido de harmonia no urbanismo de Lisboa (a tese é dele mesmo...). Cereja sobre o bolo, o tempero Broadway trouxe o melhor da experiência recente com a homenagem de Judy Garland. Interpretou George Gershwin, Noel Coward e, quase no final, Somewhere Over The Rainbow, confirmando o grande cantor que hoje é. A reforçar esta ideia, um velho tema folk, em gaélico, foi cantado sem microfone.
Com quase três horas de duração (e foram tão intensas, que ninguém deu pelo tempo a passar), o concerto teve ainda direito ao Parabéns a Você, com bolo, ao baterista, duas canções com a mãe, Kate McGarrigle, ao piano e, claro o “grand finale”. De ligas, brincos e tailleur, ora para mais um número à la Broadway (e banda transformada em bailarinos) e Gay Messiah, a fechar. A plateia, cheia, que se levantara em aplausos mais vezes (e escutara em assombroso silêncio as canções mais suaves), agradeceu em peso e acenou satisfeita.
No final, o trovador (como se auto-intitulou em entrevista publicada terça-feira no DN) juntou-se à banda e, juntos, partiram (literalmente, ainda na mesma noite) para a cidade seguinte...
* Crítica de Nuno Galopim ao concerto de Rufus Wainwright no Coliseu, publicada no Diário de Notícias de 8 de Novembro.