Ainda sob efeito do genial Inland Empire, o mercado português recua trinta anos, até 1977, e dá-nos a ver, em reposição, a primeira longa-metragem de David Lynch: essa aventura sempre enigmática e envolvente que é Eraserhead.
Por um lado, importa sublinhar a própria reposição: a capacidade de o mercado — isto é, neste caso, o circuito das salas — manter viva a memória do cinema é sintoma de vitalidade cultural e económica (mesmo se, nesse campo, o contexto português continua a ser muito mais deficitário que os mais importantes mercados europeus); por outro lado, há que lembrar que Lynch iniciava, aqui, uma démarche que o iria incluir na galeria dos maiores criadores de formas da produção contemporânea.
Estamos muito para além dos pressupostos correntes do género de terror (a bem dizer, de qualquer género...). A história do homem (interpretado pelo lendário John Nance, noutros títulos identificado como Jack Nance) que deve cuidador do seu bebé-monstro é uma daquelas fábulas capaz de relativizar todas as divisões tradicionais com que organizamos a nossa experiência existencial. Trata-se de uma história de um realismo cru e, ao mesmo tempo, de uma aventura interior transfigurada em cenários de fascinante imponderabilidade — penetrar em Eraserhead é, de facto, entrar num país novo cujo mapa foi desenhado pelo próprio Lynch.
Estamos muito para além dos pressupostos correntes do género de terror (a bem dizer, de qualquer género...). A história do homem (interpretado pelo lendário John Nance, noutros títulos identificado como Jack Nance) que deve cuidador do seu bebé-monstro é uma daquelas fábulas capaz de relativizar todas as divisões tradicionais com que organizamos a nossa experiência existencial. Trata-se de uma história de um realismo cru e, ao mesmo tempo, de uma aventura interior transfigurada em cenários de fascinante imponderabilidade — penetrar em Eraserhead é, de facto, entrar num país novo cujo mapa foi desenhado pelo próprio Lynch.