sexta-feira, novembro 02, 2007

Humano, demasiado humano

* Linguagem. Velha questão simbólica, persistente lição psicanalítica: a linguagem é tanto o que diz como o que não se diz (ou resiste a dizer) — comunicar é algo que pode depender tanto do que se expõe como do que se omite.
* Interior/exterior. Assim, por exemplo, esta imagem. Está na entrada do site do filme Corrupção. A sua "inversão" sinaliza uma vontade de apenas "estar", sem comunicar; de ser reconhecido, mas não de ser interpretado (ou de ser não-interpretável). É uma imagem que entra directamente para a história do cinema português e, mais do que isso, para a história do modo como nele se pensa o exterior — desejando, por vezes, que esse exterior seja uma mera câmara de eco ou, como se diz na gíria maniqueísta da televisão, uma audiência.
* Verdade(s). Não tenhamos ilusões: se o filme tiver um número invulgar de espectadores, a maquinaria ideológica que gera uma imagem como esta tentará impor o "nível" da audiência como uma prova irrefutável de verdade. Verdade? Que verdade? Acontece que é possível desejar que um filme — qualquer filme, de qualquer nacionalidade — seja visto por muitos espectadores sem aceitar esta mecanização dos pensamentos, das pessoas e da humanidade que nos une (e separa).