Texto publicado na revista de televisão do Diário de Notícias (23 Nov.), com o título 'O que é isso de "cultura"?' >>>
Futebol é cultura.
Toda a gente o sabe, mas poucos o reconhecem. Futebol cola-se a valores nacionais e patrióticos, e isso é cultura. Futebol promove actividades publicitárias que veiculam modelos de comportamento social, e isso é cultura. Futebol tem protagonistas que não param de dissertar sobre dignidade (“perdemos com dignidade”), trabalho (“precisamos de continuar a trabalhar”) e organização hierárquica (“o mister é que sabe”), e isso é cultura.
Toda a gente o sabe, mas não vejo responsáveis pelas programações televisivas a reconhecê-lo. Ficar-lhes-ia bem, quanto mais não seja porque evitaria esse cinismo agressivo que insiste em proclamar que “isso” de cultura é coisa de filmes, livros e peças de teatro, coisas com que intelectuais e artistas insistem em aborrecer-nos.
Que futebol é cultura demonstra-o, uma vez mais, a promoção maciça dos recentes jogos da selecção nacional. Por mim, confesso, pertenço àquele lote de treinadores de bancada que considera que a equipa está a jogar cada vez pior... Mas isso não passa de um pormenor irrelevante. O que importa sublinhar é que não há memória de haver um mísero livrinho, nem um qualquer Saramago que mereça tanto tempo de antena (a não ser o grosseiro marketing de Harry Potter). Seria um disparate, aliás, se tal acontecesse. O que só reforça a pertinência da pergunta: porque é que os destinos da nação quase só se medem em termos futebolísticos? Não há mais cultura? Cristiano Ronaldo é um talento e uma simpatia, mas não há outros modelos de comportamento que se possam oferecer aos nossos jovens?
Futebol é cultura.
Toda a gente o sabe, mas poucos o reconhecem. Futebol cola-se a valores nacionais e patrióticos, e isso é cultura. Futebol promove actividades publicitárias que veiculam modelos de comportamento social, e isso é cultura. Futebol tem protagonistas que não param de dissertar sobre dignidade (“perdemos com dignidade”), trabalho (“precisamos de continuar a trabalhar”) e organização hierárquica (“o mister é que sabe”), e isso é cultura.
Toda a gente o sabe, mas não vejo responsáveis pelas programações televisivas a reconhecê-lo. Ficar-lhes-ia bem, quanto mais não seja porque evitaria esse cinismo agressivo que insiste em proclamar que “isso” de cultura é coisa de filmes, livros e peças de teatro, coisas com que intelectuais e artistas insistem em aborrecer-nos.
Que futebol é cultura demonstra-o, uma vez mais, a promoção maciça dos recentes jogos da selecção nacional. Por mim, confesso, pertenço àquele lote de treinadores de bancada que considera que a equipa está a jogar cada vez pior... Mas isso não passa de um pormenor irrelevante. O que importa sublinhar é que não há memória de haver um mísero livrinho, nem um qualquer Saramago que mereça tanto tempo de antena (a não ser o grosseiro marketing de Harry Potter). Seria um disparate, aliás, se tal acontecesse. O que só reforça a pertinência da pergunta: porque é que os destinos da nação quase só se medem em termos futebolísticos? Não há mais cultura? Cristiano Ronaldo é um talento e uma simpatia, mas não há outros modelos de comportamento que se possam oferecer aos nossos jovens?