quinta-feira, novembro 01, 2007

Dancemos no mundo

Ano Bowie - 66
'Let's Dance' - álbum, 1983


Em meados de 1982 Bowie esperava a chegada de 30 de Setembro, a data que determinaria o fim da sua ligação comercial ao antigo manager Tony DeFries. Daí em diante seria ele o único dono da sua música... Ao mesmo tempo, insatisfeito com a sua editora (a RCA), encetou uma série de contactos com vista a uma mudança... Antes do Verão, antecedendo a rodagem de Feliz Natal Mr Lawrence, passou umas férias no Pacífico Sul, levando consigo um lote de discos. Deu por si a reencontrar pistas e referências de outros tempos, a redescobrir velhos heróis do rhythm’n’blues, no que poderá ter sido o primeiro sinal de uma mudança iminente... A caminho do fim do ano, com Tony Visconti já desafiado para nova colaboração, conheceu Nile Rodgers (então ainda nos Chic) num bar de hotel em Nova Iorque. Entenderam-se e resolveram trabalhar juntos, Tony Visconti só sabendo que estava dispensado a duas semanas da prevista entrada em estúdio. As sessões de trabalho começaram em Montreux, na Suíça. Bowie mostrou maquetes a Nile Rodgers e pediu-lhe que lhe desse êxitos. Pela primeira vez, Bowie procurava o sucesso ostensivamente (em proveito seu e do novo contrato com a EMI America recentemente assinado). Também pela primeira vez, desde Space Oddity, nenhum músico transitou das sessões do álbum anterior. Stevie Ray Vaughan, que Bowie tinha visto a tocar no festival de Montreux, conheceu aqui a sua grande oportunidade. A estúdio chegaram, também, dois outros elementos dos Chic (Bernard Edwards e Tony Thompson). A segunda etapa de gravações decorreu nos estúdios Power Station, em Nova Iorque, num recorde de apenas 20 dias, em horário laboral “normal” (das 10.30 às 18.00)... Bowie não tocou um único instrumento. E Nile Rodgers trabalhou os arranjos, procurando dar às canções o que sentia que cada qual lhe pedia. Ou seja, que China Girl tivesse tempero asiático. Ou que Let’s Dance convidasse qualquer um a dançar... O resultado foi um álbum milimetricamente polido ao pormenor, eficaz, pop. Talvez menos ousado que muitos outros igualmente criados na etapa mainstream de Bowie (1982-1987). Mas com melhores canções (e resultados) que Tonight e Never let Me Down. Foi um sucesso instantâneo e, para a EMI, o disco de vendas mais rápidas desde o Sgt Peppers dos Beatles... Contudo, Let’s Dance representou a única tentativa bem sucedida de Bowie enquanto estrela mainstream. Depois de dez anos de erros e tropeções, só voltou a mostrar sinais de visão criativa consequente em 1993, curiosamente num reencontro com o rhythm’n’blues. Mas de forma e objectivos bem distintos.