Texto publicado na revista de televisão do Diário de Notícias (26 Out.), com o título 'O que é (ou pode ser) a RTP?' >>> Desde que, há cerca de quinze anos, começaram as emissões da SIC e da TVI, sou dos que pensam que a pedra de toque das opções do espaço televisivo português está, não nos privados, mas na RTP. Além do mais, há tendências gerais que os anos só agravaram: a generalização da reality TV, o triunfo do modelo “telenovela” no espaço da ficção e a contaminação populista da chamada área de informação. Face a tudo isso, a pergunta pedagógica continua a ser: que faz a RTP para contrariar este estado de coisas?
Agora que está em fase de consulta pública o Contrato de Concessão do Serviço Público, vale a pena repetir as perguntas. Não porque seja quem for (a começar por mim, obviamente) possa ter qualquer solução mágica para, pelo menos, atenuar a miséria criativa da televisão em Portugal. Apenas porque já é tempo de tentarmos ser adultos e reconhecer que as boas intenções são, mais do que nunca, a pior das ilusões políticas.
Cito: “A Televisão de Serviço Público tem de se constituir como um referencial de qualidade, que não se submeta a uma lógica exclusiva de mercado e preencha objectivos sociais e culturais, numa sociedade diversificada como a portuguesa, ajudando a formar públicos exigentes, motivados e intervenientes.” E pergunto: que significa isto numa televisão que, dia após dia, baliza as suas horas de maior audiência com a celebração pueril do consumo (O Preço Certo) e a redução das relações geracionais a uma competição anedótica (Sabe Mais do que um Miúdo de 10 anos?). A minha resposta é: significa zero, não passa de um arrazoado de generalidades para alimentar as boas consciências da classe política.
Não é um problema de pessoas. Por certo que a esmagadora maioria dos que trabalham na RTP tem talento para fazer mais, melhor e, sobretudo, para fazer diferente. Nem sequer é um drama financeiro: a gestão dos meios disponíveis poderia (a meu ver: deveria) ser infinitamente mais diversificada. É uma questão de atitude. Começa num princípio básico: arriscar ser uma alternativa às opções dos canais privados. Em boa verdade, esse é um dado de base que, em quinze anos, não mudou.
Agora que está em fase de consulta pública o Contrato de Concessão do Serviço Público, vale a pena repetir as perguntas. Não porque seja quem for (a começar por mim, obviamente) possa ter qualquer solução mágica para, pelo menos, atenuar a miséria criativa da televisão em Portugal. Apenas porque já é tempo de tentarmos ser adultos e reconhecer que as boas intenções são, mais do que nunca, a pior das ilusões políticas.
Cito: “A Televisão de Serviço Público tem de se constituir como um referencial de qualidade, que não se submeta a uma lógica exclusiva de mercado e preencha objectivos sociais e culturais, numa sociedade diversificada como a portuguesa, ajudando a formar públicos exigentes, motivados e intervenientes.” E pergunto: que significa isto numa televisão que, dia após dia, baliza as suas horas de maior audiência com a celebração pueril do consumo (O Preço Certo) e a redução das relações geracionais a uma competição anedótica (Sabe Mais do que um Miúdo de 10 anos?). A minha resposta é: significa zero, não passa de um arrazoado de generalidades para alimentar as boas consciências da classe política.
Não é um problema de pessoas. Por certo que a esmagadora maioria dos que trabalham na RTP tem talento para fazer mais, melhor e, sobretudo, para fazer diferente. Nem sequer é um drama financeiro: a gestão dos meios disponíveis poderia (a meu ver: deveria) ser infinitamente mais diversificada. É uma questão de atitude. Começa num princípio básico: arriscar ser uma alternativa às opções dos canais privados. Em boa verdade, esse é um dado de base que, em quinze anos, não mudou.