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Este é o ponto de partida para este filme, que representa a mais ambiciosa e exuberante das produções de ficção científica dos últimos anos. Sunshine coloca-nos a bordo da Icarus II, segunda e derradeira missão de salvamento, levando a bordo todo o material nuclear resgatado pelo planeta fora. Entre a simplicidade militar de um submarino nuclear nas áreas de trabalho e carga, e o requinte de design minimalista dos compartimentos habitados, a nave acolhe uma tripulação escolhida a dedo. As pequenas tensões do dia-a-dia são controladas por um psicólogo que, em vez de comprimidos, receita minutos de paz numa sala que recria holograficamente situações relaxantes.
Perto da órbita de Mercúrio, porém, o que até então era uma missão controlada ao pormenor e cem por cento fiel ao programa estipulado, sofre reviravolta súbita no momento em que se descobre, inerte no espaço, a desaparecida Icarus I. Coloca-se a questão: manter a missão ou resgatar a carga explosiva da nave lançada sete anos antes, aumentando a hipótese de sucesso de detonação nuclear no Sol? O desvio de rota, decidido segundo o oposto do velho provérbio "mais vale um pássaro na mão que dois a voar", abre contudo uma sucessão de acidentes inesperados que, hora após hora, cada vez mais comprometem o sucesso da missão e, consequentemente, a última hipótese de futuro para a humanidade.
Um subtexto de fanatismo religioso atravessará uma história que, essencialmente contemplativa nos primeiros largos minutos do filme, caminha depois para um ritmo acelerado de acção, com episódio de arritmia à la thriller na recta final. No fim, tal como um astronauta deixa em mensagem à família, se o Sol se acender, foram bem sucedidos...
PS. Versão editada de textos publicados no DN e na revista NS