sexta-feira, outubro 26, 2007

Para reencontrar a ficção científica (18)

Stanislaw Lem
(1921-2006)


Foi, a dada altura, o escritor em língua não inglesa mais lido no mundo e um dos mais ferozes críticos da literatura de ficção científica, poucos sendo os autores que respeitava enquanto escritores (Philip K. Dick era o seu eleito). O seu mais célebre livro é Solaris, que já deu ao cinema duas magníficas adaptações, uma por Tarkovsky, em 1972, a outra, em 2002, por Steven Soderbergh.

Stanislaw Lem nasceu em Lwów (então território polaco) a 12 de Setembro de 1921. Filho de um antigo médico do exército imperial austro-húngaro, estudou medicina. Durante a II Guerra Mundial sobreviveu usando documentos falsos (que escondiam parcial ascendência judaica) e juntou-se à resistência. No fim da guerra, com a região da sua cidade entretanto anexada pela URSS, mudou-se para Cracóvia, onde, para fugir a um destino igual ao do pai, acabou a trabalhar como assistente num laboratório, tendo então começado a escrever nas horas vagas.
Começou por publicar poesia em 1946, apresentando ainda esse ano o seu primeiro conto de ficção científica Czlowiek z Marza (em português, O Homem de Marte), que publicou inicialmente por capítulos numa revista. Em 1948 um romance de características autobiográficas foi proibido pela censura comunista. Já Astronauci, o seu primeiro romance de ficção científica, teve autorização para seguir para a gráfica. A sua publicação convenceu-o a dedicar-se então prioritariamente à escrita.
Depois da morte de Estaline, o regime polaco permitiu uma maior liberdade de expressão, o que permitiu a Lem revelar-se internacionalmente como autor de ficção científica, tendo assinado uma multidão de livros rapidamente traduzidos noutras línguas. Em 1964 lançou Dalogi, o primeiro de uma série de textos de reflexão filosófica, característica de resto transversal a muita da sua obra de ficção.
A sua definitiva consagração internacional chegou em 1974, com a publicação internacional da antologia de contos Cyberidia, nos quais se falava, com humor, de um universo mecânico dominado por robots. Um ano depois, a adaptação de Tarkovski de Solaris (originalmente publicado em 1961) solidificaria o estatuto do escritor, que gozou ainda de grande popularidade em todo o mundo com A Voz do Dono e Fiasco.
Pela obra de Stanislaw Lem passam histórias de ficção científica no sentido mais tradicional do termo (especulativas, mas procurando um sentido de verosimilhança científica e tecnológica), assim como contos claramente construídos sobre alegorias. Um dos seus temas predilectos era a exploração do que defendia ser uma incapacidade de comunicação entre humanos e extra-terrestres. Um sentido de humor negro frequentemente sublinha marcas de cepticismo que passam pelas suas palavras.


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Alguns títulos fundamentais:
1959: Eden (Europa América, 1990)
1961: Solaris (Europa-América, 2003)
1967. Cyberiada
1968: A Voz do Dono (Europa América, 1985)
1986: Fiasco (Europa-América, 1988)