Ano Bowie – 65
‘Lodger’ – Álbum, 1979
Lodger é muitas vezes citado como o menos bem amado dos álbuns da chamada “trilogia berlinense”. Na verdade, o tempo acabou por dele fazer um álbum de absoluta referência, representando em si (e não apenas pelo facto de ter sido editado em 1979), uma das mais interessantes sínteses das ideias que faziam a linha da frente da invenção pop “não alinhada” em finais de 70, lançando pistas para a década que se aproximava. Além disso, Lodger foi gravado entre Montreux (na Suíça) e Nova Iorque, das anteriores sessões berlinenses aceitando apenas a manutenção de parte da equipa de trabalho e, de alguma forma, temáticas e estratégias de abordagem a novas formas de composição. Estas últimas revelaram em Lodger uma maior liberdade de acção de Brian Eno que, com Bowie, promoveram uma série de operações de construção musical quase aleatória (mediante sugestões de acordes, de estilos, de climas a sugerir). Curiosamente, este é, dos três álbuns (Low, Heroes e Lodger) aquele em que a presença autoral de Eno é menos evidente, estando ausente de quatro temas. Antes de se falar em world music, o disco demonstra a atenção de Bowie por musicologias de outras latitudes, e abre o leque de abordagens estilísticas a uma grande diversidade de caminhos (resta saber onde mora, aqui, uma certa relação de causa-efeito, com My Life In The Bush Of Ghosts, disco que pouco depois Brian Eno criou de parceria com David Byrne). Contra os dias sombrios retratados em Low e, sobretudo Heroes, revela uma luminosidade optimista, não o impedindo esta atitude dominante de vincar posições políticas concretas, da corrida ao nuclear em Fantastic Voyage à violência doméstica em Repetition. O álbum gerou uma sucessão de singles de grande impacte, de Boys Keep Swinging a Look Back In Anger, sem esquecer D.J., canções que sublinharam pistas de modernismo pop que, rapidamente, se fizeram de referência entre os seus discípulos que entravam em cena para assumir o protagonismo da invenção musical na primeira metade de 80.