sábado, outubro 06, 2007

A música quente que veio do frio

São dois os compositores contemporâneos que, da Estónia, levam hoje a sua música pelo mundo fora. Um deles, Arvo Pärt, já uma referência da música dos últimos 30 anos. O outro, Erkki-Sven Tüür (n.1959), a começar a ser interpretado e editado fora do seu país e do circuito de estados no Báltico que já o conhecem há alguns anos. Começou pelo rock, actuando em bandas e gravando canções em finais de 70 e inícios de 80. O cinema chamou depois a sua atenção, tendo registado bandas sonoras para as mais diversas propostas, da ficção ao documentário, sem esquecer a animação. Porém, é a sua obra enquanto compositor de música para salas de concerto (e eventual edição posterior) que dele está a fazer um nome citado fora da terra que o viu dar os primeiros passos. Magma, internacionalmente editado pela Virgin Classics, é um excelente cartão de visita para uma obra a descobrir.

Mostrando uma carteira de interesses muitas vezes consideravelmente distinta da que conhecemos em Arvo Pärt, Tüür tem revelado na sua obra uma multidão de fontes nas quais busca ideias. Nas suas primeiras composições espelhava marcas de uma tradição “minimalista” (sem relação com a escola norte-americana que marcou Pärt a dada altura), característica de cantos antigos (o regilaul). A noção de contraste dominou as suas atenções logo depois, revelando Inquietude du Fini (1992), uma das quatro composições reunidas neste disco, a sua peculiar forma de justapor materiais e formas musicais diferentes num espaço comum. A restantes composições aqui registadas pela Estonian National Symphony Orchestra, dirigida por Paavo Järvi, são mais recentes e traduzem demandas ainda em vigor na sua linguagem musical. Magma (de 2002), a sua quarta sinfonia (e peça principal do álbum) é uma obra para percussionista solista e orquestra, e traduz essencialmente uma noção de integração, de quebra de barreiras, de esbatimento dos contrastes que antes dominaram a atenção do compositor. As duas restantes peças, mais apelativas a espíritos contemplativos, são Igavik (curta peça coral composta para o funeral do estadista que governou a Estónia de 1992 a 2001, amigo pessoal do compositor) e The Path and Trances (obra para orquestra de cordas inspirada por um serviço religioso grego ortodoxo, e oferecida por Tüür como presente no 70º aniversário de Arvo Pärt).