domingo, outubro 21, 2007

Entre a memória e a reinvenção

Passa hoje no DocLisboa (Cinema Londres, 21.00) Não Me Obriguem a Vir Para a Rua Gritar, de certa forma um filme-homenagem a José Afonso, por João Pedro Moreira e Rui de Brito. O documentário parte de uma ideia interessante: colher memórias de conversas de quem conviveu com o cantor (ou se sente, artisticamente, herdeiro da sua obra) e, ao mesmo tempo, mostrar o resultado de uma série de desafios lançados a figuras da nova geração a quem foi pedido que criassem uma obra de arte para José Afonso. Com Pacman como mestre de cerimónias, o filme é assim um conjunto de palavras trocadas (muitas delas em tertúlias encenadas), de versões tocadas, de outras e mais inesperadas obras visitadas. Ouvem-se versões por nomes como os The Vicious 5, Radio Macau, Raquel Tavares ou Couple Coffee, entre outros. Descobrem-se homenagens na forma de street art ou teatro. Escutam-se memórias de Francisco Fanhais, Sérgio Godinho, Vitorino, Carlos Martins, entre outros. Pena, no fim, uma montagem mais preocupada com a gestão da forma que com o melhor dosear dos conteúdos ( a primeira tertúlia de velhos companheiros, mesmo carregada de memórias bem relatadas, está presente tempo a mais quando comparada com outras conversas, algumas músicas são por vezes cortadas quando ainda saberia bem escutar um pouco mais...). Falta uma mais clara contextualização da figura, música, tempo e lugar para quem eventualmente possa não saber quem foi José Afonso (o filme parte da premissa, errada, que todos o conhecemos, limitando assim a sua exposição junto a outros públicos). Mesmo assim, um válido documentário que mostra que há outras maneiras de encarar a memória da música portuguesa (e do contexto em que nasceu).
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