Chega hoje às salas de cinema o filme de abertura da edição deste ano da Festa do Cinema Francês. As Canções de Amor, do realizador Christophe Honoré (o mesmo de Em Paris e Minha Mãe) é um musical. Mas não apenas um musical. É um filme dramático, no qual o recurso à canção não surge por mero dispositivo de deleite estético, mas para, de outra forma, sublinhar a intensidade de certos instantes. A voz cantada, por vezes, escuta-se com outra atenção... As canções, muitas delas, surgiram em 2005 no álbum Garçon d’Honeur, o primeiro de Alex Beaupain, cantautor de afinidades com nomes recentes da nova canção francesa (de Biolay a Keren Ann, de Arthur H a Carla Bruni), e algumas traduziam já então o sentido de perda da morte, recente, da namorada do músico. Amigo de longa data de Honoré, e para quem compôs e gravou a canção da cena do telefonema no final de Dans Paris, Beaupain transportou parte da sua experiência pessoal e as suas canções para a história que aqui se apresenta, ao lote de Garçon d’Honeur juntando outras expressamente compostas para determinadas sequências do filme. Com carga narrativa e cantadas pelas vozes dos próprios actores (Louis Garrel, Chiara Mastroiani, Ludivine Sagnier ou Gregoire LePrince Ringuet), as canções são, contudo, apenas um dos argumentos em favor deste assombroso feito de cinema. Como no seu filme anterior, Honoré olha a cidade, usa-a não apenas como cenário mas também como contexto de espaço e tempo onde a história acontece. São evidentes as marcas de admiração cinéfila pelo cinema de Demy, e também claras as heranças da Nouvelle Vague. Mas, filme a filme, Christophe Honoré vai desenvolvendo uma linguagem.
Por linhas curtas, esta é a história de várias relações na Paris de hoje. Isamaël (Garrel) trabalha num jornal, a horas desencontradas com tudo e todos, inclusivamente Julie (Sagnier) com quem vive uma relação a três, o terceiro elemento sendo uma sua amiga e colega de trabalho... Um acontecimento súbito baralha os peões do jogo. E novas ligações e relacionamentos acabam por se desenhar e evoluir, muitos ao sabor do inesperado... E mais não se deve, para já, dizer...