sexta-feira, setembro 28, 2007
Um bailado imperial
Chegou ao mercado português de DVD o filme A Maldição da Flor Dourada, no qual o realizador chinês Zhang Yimou retoma e leva a um grau de absoluto deslumbramento formal uma linguagem que começou a abordar em Herói (2002). A história devolve-nos mais de mil anos atrás no tempo, para então reencontrarmos a opulência da China imperial durante o período de grande esplendor económico e artístico vivido durante a dinastia Tang. A quase totalidade da acção decorre dentro dos muros da Cidade Proibida (na verdade nada mais que uma réplica à escala dos pátios centrais e pavilhões adjacentes, pelos quais as câmaras circularam livremente). Como em experiências anteriores (e adjuvado pela música de Tan Dun), Zhang Yimou coreografa os acontecimentos como se de um delicado bailado o filme se tratasse, tão belos os gestos do quotidiano (como a regular procissão de criadas que de duas em duas horas levam um remédio à imperatriz), como as lutas e batalhas, estas mais parecendo verdadeiras companhias de dança em plena representação que hordas de corpos e armas em combate. Os espaços e o magnífico guarda roupa, que a direcção de fotografia explora condignamente contribuem para construção de um cenário visualmente esmagador, no qual vamos descobrir as muitas verdades escondidas na vida privada dos elementos de uma família imperial a quem não faltam os motivos para fazer silêncio. Estamos a dias do Festival dos Crisântemos, e o palácio imperial está literalmente forrado a flores. Nas melhores pétalas vão cair as nódoas de velhas verdades caladas, de traições, de vinganças, que uma a uma rebentam no coração da mais poderosa, mas não menos frágil, família do império.