Texto publicado na revista de te-levisão do Diário de Notícias (14 Set.), com o título 'O psiquiatra que veio de Espanha' >>> Já o escrevi e repito: não tenho especial apreço pelo programa Prós e Contras (RTP1). Sem moderação consistente, a acumulação de convidados favorece quase invariavelmente a confusão. Além disso, a postura de Fátima Campos Ferreira, mesmo partindo da pedagogia jornalística, tende a deslizar para um “espontaneísmo” desordenado que impede a simples construção de uma linha de compreensão ou pensamento, seja ela qual for.
Claro que, em tempo de tantas monstruosidades televisivas, o Prós e Contras tem pelo menos o mérito de mostrar que há mais mundos para além do infantilismo dos concursos ou da mediocridade das ficções telenovelescas. Mas não é possível passar em claro que, na segunda-feira, em edição dedicada ao caso McCann, se tenha incensado um “psiquiatra forense” (propositadamente vindo de Espanha) que deixou no programa um rasto de mediocridade argumentativa que, de uma só vez, conseguiu difamar a psiquiatria e promover a mais grosseira pornografia mediática.
Seja qual for a responsabilidade dos arguidos (a ser determinada pela investigação em curso), o conhecimento psiquiátrico não existe para justificar uma avaliação humana, neste caso de Kate McCann, capaz de começar na observação do “rosto” e desembocar em torpes insinuações de culpabilidade. Não por acaso, os convidados estavam claramente indignados. É espantoso que Fátima Campos Ferreira, sempre tão atenta ao “contraditório”, não tenha dado o devido valor à sua veemência, em particular à condenação daqueles métodos “psiquiátricos”, salutarmente formulada por José Miguel Júdice.
Que Prós e Contras tenha favorecido semelhante monstruosidade ética e filosófica, eis o que importa não escamotear. Na verdade, há muita gente que não se revê naquelas formas de fazer jornalismo. E é preciso dizê-lo. Foi útil, aliás, que Henrique Monteiro (director do Expresso, também participante no debate) tenha sublinhado que o mundo jornalístico está cheio de clivagens: a explicitação das diferenças entre jornalistas fortalece a profissão e, em última instância, reforça a responsabilidade das escolhas do próprio público.
Claro que, em tempo de tantas monstruosidades televisivas, o Prós e Contras tem pelo menos o mérito de mostrar que há mais mundos para além do infantilismo dos concursos ou da mediocridade das ficções telenovelescas. Mas não é possível passar em claro que, na segunda-feira, em edição dedicada ao caso McCann, se tenha incensado um “psiquiatra forense” (propositadamente vindo de Espanha) que deixou no programa um rasto de mediocridade argumentativa que, de uma só vez, conseguiu difamar a psiquiatria e promover a mais grosseira pornografia mediática.
Seja qual for a responsabilidade dos arguidos (a ser determinada pela investigação em curso), o conhecimento psiquiátrico não existe para justificar uma avaliação humana, neste caso de Kate McCann, capaz de começar na observação do “rosto” e desembocar em torpes insinuações de culpabilidade. Não por acaso, os convidados estavam claramente indignados. É espantoso que Fátima Campos Ferreira, sempre tão atenta ao “contraditório”, não tenha dado o devido valor à sua veemência, em particular à condenação daqueles métodos “psiquiátricos”, salutarmente formulada por José Miguel Júdice.
Que Prós e Contras tenha favorecido semelhante monstruosidade ética e filosófica, eis o que importa não escamotear. Na verdade, há muita gente que não se revê naquelas formas de fazer jornalismo. E é preciso dizê-lo. Foi útil, aliás, que Henrique Monteiro (director do Expresso, também participante no debate) tenha sublinhado que o mundo jornalístico está cheio de clivagens: a explicitação das diferenças entre jornalistas fortalece a profissão e, em última instância, reforça a responsabilidade das escolhas do próprio público.