Texto publicado na revista de televisão do Diário de Notícias (21 Set.), com o título 'Como abordar as emoções' >>> Na última edição de O Eixo do Mal (SIC Notícias), José Júdice avançou com uma expressão cuja precisão vale a pena sublinhar. Discutiam-se as formas de abordagem jornalística do “Caso McCann” e, em particular, a avalancha de coisas gratuitas com que, a pretexto dele, as televisões (portuguesas e estrangeiras) nos têm massacrado. Júdice sugeriu, então, que vivemos numa ditadura da emoção. Assim é, de facto: as emoções são muitas vezes tratadas como inquestionável aval de justeza e, no limite, de justiça. Concretamente, já se viu que há quem não hesite em extrair ilações “científicas” a partir das lágrimas que Kate McCann chora (e, sobretudo, não chora).
Convém, por isso, lembrar: há uma forma ancestral de estupidez sempre disponível para considerar que suspeitar das emoções é coisa de “intelectual”. Ora, importa lembrar algo que, de Sócrates a Sartre, a humanidade muito bem conhece: pensar dá prazer, pensar é uma actividade intrinsecamente emocional. O problema (televisivo, neste caso) não está em escolher entre “razão” e “emoção”. Trata-se, isso sim, de questionar o que se faz com as emoções.
Lembrei-me destas dúvidas a propósito de uma espantosa edição do programa Oprah (SIC Mulher), emitida ao longo desta semana. Oprah Winfrey abordava o caso terrível de uma jovem do estado do Ohio que, aos quinze anos, tentou esconder o facto de estar grávida, acabando por deixar morrer o seu bebé no momento do parto. A história, infinitamente perturbante, era contada pela própria protagonista, actualmente a cumprir uma pena de prisão.
Digamos, para simplificar, que Oprah não abdicava nem por um instante do impacto emocional (e espectacular, no sentido mais genuíno do termo) da sua história. Ao mesmo tempo, fazia-o com exemplar rigor informativo, seguindo uma lógica obstinadamente pedagógica. Foram momentos exemplares de uma maneira de fazer televisão que cumpre dois princípios básicos: primeiro, não especular para além dos factos palpáveis; segundo, nunca esquecer que cada história é sempre pessoal e irredutível.
Convém, por isso, lembrar: há uma forma ancestral de estupidez sempre disponível para considerar que suspeitar das emoções é coisa de “intelectual”. Ora, importa lembrar algo que, de Sócrates a Sartre, a humanidade muito bem conhece: pensar dá prazer, pensar é uma actividade intrinsecamente emocional. O problema (televisivo, neste caso) não está em escolher entre “razão” e “emoção”. Trata-se, isso sim, de questionar o que se faz com as emoções.
Lembrei-me destas dúvidas a propósito de uma espantosa edição do programa Oprah (SIC Mulher), emitida ao longo desta semana. Oprah Winfrey abordava o caso terrível de uma jovem do estado do Ohio que, aos quinze anos, tentou esconder o facto de estar grávida, acabando por deixar morrer o seu bebé no momento do parto. A história, infinitamente perturbante, era contada pela própria protagonista, actualmente a cumprir uma pena de prisão.
Digamos, para simplificar, que Oprah não abdicava nem por um instante do impacto emocional (e espectacular, no sentido mais genuíno do termo) da sua história. Ao mesmo tempo, fazia-o com exemplar rigor informativo, seguindo uma lógica obstinadamente pedagógica. Foram momentos exemplares de uma maneira de fazer televisão que cumpre dois princípios básicos: primeiro, não especular para além dos factos palpáveis; segundo, nunca esquecer que cada história é sempre pessoal e irredutível.