A família real espanhola num célebre quadro de Goya e os olhares inquisidores dos detentores do poder político e militar. Eis uma imagem que resume bem o que está em jogo no novo filme de Milos Forman, Os Fantasmas de Goya — ou seja: a relação sempre tensa entre a criação artística e os que, directa ou simbolicamente, controlam as condições práticas dessa mesma criação e a sua circulação pública.
Daí que o filme de Forman seja menos sobre a personagem de Goya (interpretada em sotto voce por Stellan Skarsgard) e mais sobre uma teia de figuras dilaceradas pelos valores da época e, em particular, pela repressão exercida pela Inquisição, encarnada pela figura fascinante de um padre (Javier Bardem, à esquerda nesta imagem do filme), pateticamente assombrado pelas tentações da carne. Não estamos, portanto, perante um "filme histórico" de rotina, mas sim face a um exercício que contesta, ponto por ponto, as regras mais académicas do género, em particular nas suas muitas variantes televisivas.