O cinema não era um mundo desconhecido para Jim Henson na alvorada dos anos 80. O criador dos Marretas e um dos principais responsáveis pela Rua Sésamo tinha já levado Cocas e Miss Piggy ao grande ecrã em 1979 em The Muppet Movie. No mesmo ano George Lucas convidara-o para dar corpo a Yoda, uma das figuras-chave de O Imprério Contra Ataca, da saga Guerra das Estrelas. E para este caso em concreto sugeriu a colaboração de Franz Oz, que coordenou os movimentos e deu voz ao velho mestre Jedi. Para o passo seguinte voltou a desafiar Oz, juntos criando em 1982 o espantoso O Cristal Encantado.
Cristal Encantado representa o mais bem sucedido dos esforços cinematográficos de Jim Henson, parecendo hoje, a 25 anos de distância, um feito sobre-humano todo o engenho envolvido numa criação sem personagens de carne e osso e praticamente sem efeitos especiais. Apenas a arte da manipulação de bonecos. Com uma linha narrativa simples, esta é mais uma luta entre o bem e o mal, partindo de um povo de deuses que há mil anos se dividiu em duas entidades, a boa (os mystics, com ar de lagarto molengão e patusco, com espírito zen) e a má (os skeksis, mistura de crocodilo e abutre, que ninguém quer por perto)... Uma profecia diz que um gelfling (um povo mais parecido com o ser humano) poderá curar um cristal que se quebrou há mil anos e impedir os mafarricos seksis de se manter eternamente no poder... Mais que a história simplória, o filme é regalo visual, cruzando momentos de aventura e deslumbramento com episódios de humor gráfico de pura escola Marretas.
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Significativamente diferente Labririnto (1986), partilha a acção entre bonecos e seres humanos, num elenco que essencialmente destaca as presenças de David Bowie e da então muito jovem Jennifer Conelly. A história é ainda mais coxa que a de O Cristal Encantado, apresentando a missão de salvamento de um bebé raptado pelo rei dos duendes (Bowie), que vive numa terra de fantasia onde habitam os seres mais estranhos... Destaque, neste filme, para as canções que Bowie canta (entre as quais o single Undreground), doseando entre a acção e o humor umas pitadas de registo musical de rosto pop.
O mais interessante nestas edições (ambas com um DVD adicional com extras) são os documentários e comentários, que revelam a mestria da arte de Jim Henson e suas equipas ao serviço de um cinema fantástico que já se fazia imaginativo e surpreendente bem antes da chegada dos truques da era digital.
O mais interessante nestas edições (ambas com um DVD adicional com extras) são os documentários e comentários, que revelam a mestria da arte de Jim Henson e suas equipas ao serviço de um cinema fantástico que já se fazia imaginativo e surpreendente bem antes da chegada dos truques da era digital.
PS. Texto originalmente publicado na revista NS