Quer queiramos, quer não, Ratatouille chega-nos recoberto por um resumo muito linear (e muito sugestivo): esta é a história de Rémy, um rato que possui sofisticados dotes de cozinheiro que, por princípio, não associamos ao mundo "sujo" de tais animais. Na verdade, essa é uma sinopse que não faz justiça à complexidade dramática do filme dirigido por Brad Bird. Isto porque o drama nasce, aqui, da coexistência — e, depois, da cumplicidade — de duas personagens naturalmente antagónicas: Rémy e Linguini, um candidato (não muito brilhante...) a chef de cozinha que, além do mais, possui essa particularidade, ameaçadora para o mundo dos ratos, de ser um... humano!
Provavelmente, nunca a Pixar fez um filme que, para além da sua maravilhosa animação digital, fosse tão complexo nos temas e emoções que coloca em jogo e, nessa medida, tão subtilmente adulto. Vale a pena assinalar que isto acontece quando a Pixar passou a integrar os estúdios Disney, num processo que, tanto quanto se sabe, não tem sido muito pacífico. Dir-se-ia que a tradição e a experimentação passaram a estar reunidas numa aliança insólita mas que, por certo, irá potenciar muitas formas de criatividade — ironicamente, apetece dizer que o velho Walt Disney não se sentiria chocado com tal hipótese.