‘Never Let Me Down’ – Album, 1987
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Como em todas as obras criativas, Bowie conheceu momentos de inspiração, mas também episódios onde ela acabou bem longe da música que gravou. E o mais evidente exemplo de desnorte criativo na sua obra encontra-se num período que podemos limitar entre 1984 e 1992. Ou seja, a ressaca do estatuto mainstream conquistado com o álbum Let’s Dance em 1983 que levou Bowie a experimentar a confecção de sucessores destinados ao grande mercado... Levou contudo cinco anos a perceber que aquele não era o seu lugar. Descobriu-o antes de mergulhar num outro erro (o dos Tin Machine), na sequência do artisticamente mais desastroso dos discos de toda a sua carreira: Never Let Me Down, de 1987. O álbum foi sonhado e desejado pela editora. Depois das meias-tintas de Tonight (1984) e do sucesso de Dancing In The Street, com Mick Jagger, apresentado no Live Aid, a editora chegou a pensar numa compilação de máxi-singles, que acabou arquivada. Mas Bowie só respondeu ao desafio depois de concluída uma etapa de dedicação ao cinema e a Iggy Pop, entre 1985 e 86. Juntou músicos em Montreux, recuperando parte da equipa que havia trabalhado em Tonight, convidando Peter Frampton para tocar as guitarras. O álbum foi pensado para servir a digressão que se lhe seguiria (a Glass Spider Tour), mas cresceu feito pompa formal sem muito para dizer nem grandes ideias para mostrar. Comercialmente foi, na atura, a pior performance de Bowie desde 1970. E rapidamente acabou esquecido. O próprio Bowie mais tarde acabaria por descrevê-lo como uma desilusão, ignorando-o em futuras digressões. Não é um disco incompreendido. É mesmo medíocre. E nunca será, nem num futuro distante, reeleito como clássico esquecido.