Conheci-o numa manhã de chuva, em Nova Iorque. Na tarde anterior, numa espécie de romaria obrigatória em cada passagem pela cidade, tinha entrado no CBGB. Era ainda cedo para bar e palco, mas as portas da rua nunca estavam fechadas. Nem que para dizer ao ocasional turista rock'n'roll do momento, que as "famosas" T-shirts negras com o logo do clube se vendiam na porta ao lado, na CB's Gallery... Estávamos em 2006 e a notícia do eventual encerramento do CBGB levava-me a tentar uma entrevista com o homem que abrira aquele bar em 1973 e que, nos anos seguintes, deu primeiro palco a nomes como os de Patti Smith, Ramones, Talking Heads, Television, Blondie ou The Shirts, entre muitos outros. Não tinha marcado nada, pelo que me limitei a abrir a porta e perguntar: "O Hilly está"? Não estava. Pediram-me que telefonasse de manhã, pelas nove horas, que certamente ali estaria... Assim foi. Na manhã seguinte, passaram-lhe o telefone, sugeri uma possível entrevista. Resposta: "Venha já, se quiser"... Fui. Como certamente tantas outras vezes lhe aconteceu, recebeu um perfeito estranho que se limitara a apresentar-se como jornalista. Sentámo-nos à volta da sua secretária (a foto que ilustra o post mostra o momento) e ali falámos sobre as memórias daquela mítica casa e sobre o cenário de encerramento que, então, a assombrava. Depois deu-me luz verde para circular pelo clube e fotografar o que entendesse. Adeus e obrigado. Simples. Mas inesquecível.
Hilly Krystal morreu ontem, vítima de complicações de um cancro nos pulmões detectado pouco depois dessa manhã que passámos juntos. Há precisamente um ano, o clube fechava as portas. Agora é Hillly quem se despede.