Infelizmente, o mercado cinematográfico está formatado pelos discursos promocionais de Verão. Pior do que isso: a noção de documentário é todos os dias viciada pelas aborda-gens "naturalistas", invadidas pela demagogia da reality TV que vemos em todos os telejornais...
E também a prova real de que é possível fazer reposições no mercado cinematográfico português!
Apesar disso (e também contra isso), a possibilidade de reencontro com Torre Bela (1975) é um dos grandes acontecimentos do nosso Verão cinematográfico: um genuíno exercício documental que acompanha as convulsões da ocupação de uma propriedade rural, no Ribatejo, em 1975, ao mesmo tempo reflectindo os movimentos contraditórios de um país que, mal ou bem, estava de facto a inventar uma nova história.
Muito para além (ou melhor, aquém) do modelo de "filme-militante", típico da época, o trabalho de Thomas Harlan afirma-se como um espantoso e, sobretudo, exigente exercício de atenção ao real: trata-se de detectar todas as suas nuances, seguir todas as suas pistas e nunca encerrar o processo em nenhuma lógica determinista. Mais de 30 anos depois, Torre Bela é uma lição de cinema e um salutar exercício de celebração da política como tarefa de construção da vida de todos os dias.E também a prova real de que é possível fazer reposições no mercado cinematográfico português!