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Catherine Deneuve numa estação de caminho de ferro. O cenário é, de uma só vez, nostálgico (pelo velho comboio) e abstracto (pelo distanciamento que os objectos técnicos, à direita, introduzem na imagem). A soma daquele primitivismo com esta fuga aos desígnios do tempo dá pelo nome de
glamour. A foto pertence a uma trilogia de imagens, assinadas por
Annie Leibovitz, que definem uma nova campanha da marca
Louis Vuitton. Lançada pouco de depois de uma outra campanha com
Scarlett Johansson, esta é uma iniciativa capaz de integrar e, ao mesmo tempo, reinventar alguns pessupostos clássicos do conceito global de
estrela. E tanto mais quanto outro dos fotografados é Mikhaïl Gorbatchev.
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A sugestão de enquadrar Gorbatchev pelas ruínas do Muro de Berlim partiu do próprio, por assim dizer apostando em revisitar o
cenário mais simbólico (e mais real!) da sua insubstituível contribuição histórica. Como seria quase inevitável, a demagogia de algumas formas jornalísticas rapidamente cheirou a hipótese de "polémica", acusando o antigo Presidente da URSS de cedência aos desígnios da publicidade. Ignora-se, assim, que essa é, justamente, a
questão. Ou seja: discutir as possibilidades de cruzamento, eventualmente de contaminação, dos discursos políticos e das mensagens publicitárias. Sintomaticamente, quase sempre se omite também que os dividendos do trabalho de Gorbatchev reverteram para a
Cruz Verde, organização não governamental de defesa das causas ambientais, criada pelo próprio Gorbatchev, em 1993.
A terceira imagem da campanha é a mais clássica (pelos valores figurativos que convoca): Steffi Graf e Andre Agassi em pose tradicional e serenamente romântica.
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