sexta-feira, agosto 10, 2007

Em conversa: Human League (3)

Continuamos hoje a publicar uma entrevista com Phil Oakey, dos Human League. Neste post recorda-se o álbum Dare!, de 1981 e faz-se um balanço dos altos e baixos da carreira posterior do grupo. As preguntas e respostas são de uma entrevista publicada no DNmais em 2002. A imagem do post corresponde a uma das fotos promocionais usadas na imprensa à altura do lançamento de Dare!, revelando a formação dos Human League após a cisão de 1980.

20 anos depois Dare! ainda tem um certo sabor futurista...
Muitos dos avanços tecnológicos que aconteceram depois dos sintetizadores analógicos têm sido, de certa forma, coisas com "sabor antigo"... As ferramentas de gravação que apareceram são, sobretudo, máquinas de gravação. Os samplers são gravadores que permitem um trabalho muito rápido. No final dos anos 70, os sintetizadores eram, de facto, uma novidade absoluta... Costumo dizer que os samplers são como uma máquina fotográfica, ao passo que os sintetizadores analógicos permitem fazer pintura. Partimos de uma tela em branco e temos de a ilustrar. Fazemos o que queremos, mas temos de criar e não apenas dar forma a algo que já existe. Por isso penso que, ainda hoje, os sintetizadores são ainda o instrumento mais moderno que existe.

Dare! teve um fortíssimo impacte junto ao público, mas certamente também dentro do grupo. Foi difícil pensar o que fazer depois?
De facto...Esse disco foi a materialização exacta daquilo que queríamos fazer, isto sem querer dizer que não me orgulhe de discos que tínhamos feito antes ou dos que gravámos depois. Mas na altura queríamos mesmo continuar a fazer música pop as nossas finanças eram até então tremidas, pelo que também nesse sentido o disco foi positivo. Tal como foi positivo trabalhar com aquele grupo de pessoas... O mais interessante em Dare! foi o resultado do esforço colectivo de nove pessoas, que não teriam atingido aqueles resultados sozinhos.

Porque levaram tanto tempo a conceber um sucessor (na época era hábito editar-se um álbum por ano)?
Toda a gente ficou meio afectada, meio doida! Para ser honesto, o grupo nem era quem estava mais insano. O Martin Rushent, que era o produtor, perdeu toda a confiança no que estávamos a fazer depois. Se o Martin não se tivesse sentido daquela forma, o sucessor teria aparecido mais cedo... Ele afastou-se, tínhamos o Mirror Man e o Fascination, que não podíamos depois juntar a mais nada... Essas duas canções iriam fazer parte de um álbum que não pudemos completar sem o Martin. Vistas as coisas à distância, reconheço que talvez tenha sido lesivo o volume de sucesso que então vivemos.Foi prematuro... E não tínhamos talento para responder à altura...

Curiosamente, na altura eram sistematicamente sovados pela imprensa britânica. Há poucos anos, quando lançaram Secrets, passaram de bestas a bestiais...
É um facto! As críticas que tivemos com Secrets foram as melhores que alguma vez obtivemos. E o mesmo voltou a acontecer, depois, com um disco de material mais antigo, dos inícios de vida do grupo [The Golden Hour Of The Future, de 2002]... Penso que tudo isso também se deve ao facto de sermos hoje um grupo discreto, que está algures no cenário. Não temos um protagonismo actual evidente. E as pessoas falam de nós como alguém que usa instrumentos interessantes e faz boas canções.

Entre meados de 80 e o recente Secrets, os Human League não deixaram nunca de, ocasionalmente, surpreender-nos. Com Crash, em 1986, ensaiaram uma linguagem assumidamente americana...
Foi uma experiência interessante. Não era bem um álbum de Human League , mas mais um ensaio sobre como é que os americanos fazem discos. O Jimmy Jam e o Terry Louis não só são extremamente talentosos como foram verdadeiros gentlemen. Ajudaram-nos, abriram-nos os olhos... E deram-nos um número um, sem o qual talvez não estivéssemos aqui hoje. E creio que o mesmo se voltou a passar, mais tarde, com o Tell Me When. São pequenas histórias e momentos de sucesso que nos fazem sentir porque fazemos música há tantos anos.

Os dois álbuns dos anos 90, Romantic e Octopus, foram tentativas de reencontrar a alma perdida de Dare?
Não creio que houvesse uma ideia definida do que poderíamos fazer quando gravámos o Romantic... Nessa altura estávamos até perdidos. Deixámos de usar sintetizadores e adoptámos os samplers, que toda a gente então usava, não por acreditarmos nesses instrumentos, mas porque pensávamos que nos fariam novamente famosos. Foram dias difíceis. Creio que só nos reencontrámos apenas em Secrets... Agora estou sentado no estúdio, a olhar para os instrumentos que sei que quero explorar e como os explorar.
(continua)