Ano Bowie – 59
“Diamond Dogs” – Álbum, 1974
Em finais de 1973 Bowie começou a desenvolver dois projectos para musicais de palco que acabaram por nunca se concretizar. Um deles era uma versão longa da história de Ziggy Stardust, abandonada depois por se pensar ser um passo errado para trás. O outro, uma adaptação do romance 1984, de George Orwell, cuja realização acabou impedida pela não cedência de direitos por parte da viúva do escritor. Entusiasmado pelas ideias que entretanto havia desenvolvido, Bowie acabou por criar a sua visão distópica de uma outra cidade projectada no futuro, na qual uma série de referências americanas foram por si incluídas. Esta cidade de sombras, tensão e desilusão acabaria por ser o cenário no qual projectou as canções de Diamond Dogs, álbum que assinala franca vontade de partir para lá dos domínios estilísticos associados ao glam rock (esgotados por si em Aladdin Sane e, entretanto, feitos moda descartável por inúmeras novas bandas oportunistas), experimentando um sentido dramático que teria evidentes herdeiros, mais tarde, entre os partidários do rock gótico. Na verdade, apenas Rebel Rebel permite estabelecer uma ponte com o passado imediato em Bowie (esta, contudo, foi uma das duas canções que “salvou” do musical dedicado a Ziggy entretanto cancelado, daí a adinidade). Apesar de projectado num futuro eventual, o álbum representa uma visão crítica da vida urbana dos anos 60 e 70. Bowie chegou a descreve-lo como uma visão muito inglesa de um sentido de vida apocalíptico e reconheceu que entre as canções residiam marcas de incidentes da vida financeira na Nova Iorque de então. O disco enfrenta, ainda, pela primeira vez na escrita de Bowie, referências concretas ao consumo de drogas. Musicalmente é um disco de reinvenção de ideias, e revelador de sinais de atenção de Bowie para com as outras músicas do seu tempo. 1984, canção criada antes das demais composições, revelava um interesse pelo emergente fenómeno disco (e não esconde uma certa proximidade, na arquitectura rítmica, com o tema para o filme Shaft, recentemente gravada por Isaac Haayes. Liricamente reflecte o início de uma relação fragmentária com a escrita, em parte influenciada pela descoberta de técnicas usadas por William S. Burroughs, que Bowie tinha entrevistado para a Rolling Stone um ano antes. Apesar de ter dividido a crítica na altura, hoje é considerado um dos mais importantes álbuns na discografia de Bowie.