sábado, agosto 11, 2007

A consagração de um herói

Ano Bowie – 58
“Heroes” – Álbum, 1977


Em 1977 David Bowie gravou, além de colaborações com Iggy Pop, dois álbums que reforçariam o seu estatuto como uma das mais influentes figuras da história da música popular. Um deles foi Low, de certa forma a cartilha que ajudou a definir rumos que a pop tomaria nos anos 80. O outro, “Heroes”, foi o seu natural sucessor. E vencida a estranheza com que Low fora recebido alguns meses antes, tornou-se num fenómeno à escala global (com excepções, como nos EUA, onde o sucesso mainstream só regressaria com Let’s Dance). “Heroes” foi gravado no hoje mítico estúdio Hansa By The Wall 2, a poucos metros do muro que nesses tempos dividia a cidade. Foram frequentes as vezes que se viram na mira dos binóculos dos soldados russsos, o ambiente de vigilância e ansiedade de certa forma projectando-se depois na música. O ponto de partida para a construção musical foi em tudo semelhante ao de Low, primeiras texturas e ideias melódicas lançadas em poucos dias, sob jogos de teatro em volta de personagens que Eno e Bowie assumiam em estúdio, uma vez mais sob a atenção de Tony Visconti, na produção. Porém, “Heroes” revelar-se-ia um disco mais festivo que o sombrio Low. As guitarras, a cargo de Robert Fripp, concederam-lhe uma carnalidade mais exultante, e o momento que pessoal mais positivo que Bowie vivia acabou por se instalar entre as canções. O tema-título, uma das mais célebres canções de Bowie, traduz, ainda, um sentido de triunfo que Bowie sentia pelo reconhecimento da sua obra. As palavras desta canção, que hoje são parte do tesouro Olimpo da cultura popular surgiram, como as das demais de “Heroes” sob apelo quase espontâneo. Muitos recordam hoje como Bowie só sabia o que ia cantar quando se aproximava do mircofone... As gravações (e a mais longa etapa de mistura) duraram perto de três meses, entre Berlim e um estúdio na Suíça, sob clima de optimismo. Esta confiança, de resto, foi depois aproveitada pela editora na hora de promover o álbum. “Há a old wave, a new wave e, depois, David Bowie”... O disco, curiosamente, apelaria transversalmente a muitos e foi para diversas publicações do disco do ano em finais de 1977.