Mesmo chegando a Vila do Conde com o Festival de Curtas Metragens em plena fase final (começou no dia 7, termina domingo, dia 15), é fácil perceber que estamos perante um genuíno fenómeno. Apesar (ou através) da sua "especialização", o certame possui dois vectores fundamentais: uma abertura a todas as formas de expressão e experimentação e um público fiel que, sobretudo nas sessões da noite, enche normalmente o auditório principal. Para já, e sem qualquer preocupação de ser exaustivo, algumas notas breves sobre os filmes que mais me tocaram:
- China, China (Portugal), de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata: já apresentado no IndieLisboa e na Quinzena dos Realizadores (Cannes), é uma das grandes proezas recentes da produção portuguesa, um exercício de espantosa acutilância narrativa e simbólica, mostrando que é possível filmar o quotidiano (Lisboa, zona do Martim Moniz) sem o submeter à ditadura do naturalismo televisivo dominante [foto].
- Sereia (Portugal), de José Maria Vaz da Silva: um primeiro filme que, a partir das memórias de um trabalhador de teatro (seguríssima composição de Carlos Santos), propõe um lirismo onírico pouco vulgar no cinema português, completamente genuíno e controlado nas suas nuances formais (notável direcção fotográfica de Edmundo Diaz).
- Keidas (Finlândia), de P.V. Lehtinen: uma espécie de portfolio cinematográfico sobre os frequentadores de uma piscina de Helsínquia que, na sua acutilante fotografia a preto e branco, tem tanto de reportagem como de celebração mitológica da pluralidade humana (e um desconcertante poder encantatório).
- Entracte (França), de Yann Gonzalez: fabulosa ideia de mise en scène centrada num terreno de jogo (de basquetebol, creio) onde evoluem três personagens que têm tanto de figuras de um teledisco geométrico como de sombras errantes de uma tragédia de amor - ao mesmo tempo claustrofóbico e libertador, o filme desemboca numa transcendência sustentada pelas palavras (por isso mesmo tornando inútil o seu derradeiro plano que nos mostra um espaço exterior e, por assim dizer, "alternativo"); é uma experiência apostada em celebrar o cinema como coisa simultaneamente sensual e abstracta.
- China, China (Portugal), de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata: já apresentado no IndieLisboa e na Quinzena dos Realizadores (Cannes), é uma das grandes proezas recentes da produção portuguesa, um exercício de espantosa acutilância narrativa e simbólica, mostrando que é possível filmar o quotidiano (Lisboa, zona do Martim Moniz) sem o submeter à ditadura do naturalismo televisivo dominante [foto].
- Sereia (Portugal), de José Maria Vaz da Silva: um primeiro filme que, a partir das memórias de um trabalhador de teatro (seguríssima composição de Carlos Santos), propõe um lirismo onírico pouco vulgar no cinema português, completamente genuíno e controlado nas suas nuances formais (notável direcção fotográfica de Edmundo Diaz).
- Keidas (Finlândia), de P.V. Lehtinen: uma espécie de portfolio cinematográfico sobre os frequentadores de uma piscina de Helsínquia que, na sua acutilante fotografia a preto e branco, tem tanto de reportagem como de celebração mitológica da pluralidade humana (e um desconcertante poder encantatório).
- Entracte (França), de Yann Gonzalez: fabulosa ideia de mise en scène centrada num terreno de jogo (de basquetebol, creio) onde evoluem três personagens que têm tanto de figuras de um teledisco geométrico como de sombras errantes de uma tragédia de amor - ao mesmo tempo claustrofóbico e libertador, o filme desemboca numa transcendência sustentada pelas palavras (por isso mesmo tornando inútil o seu derradeiro plano que nos mostra um espaço exterior e, por assim dizer, "alternativo"); é uma experiência apostada em celebrar o cinema como coisa simultaneamente sensual e abstracta.