

- Sereia (Portugal), de José Maria Vaz da Silva: um primeiro filme que, a partir das memórias de um trabalhador de teatro (seguríssima composição de Carlos Santos), propõe um lirismo onírico pouco vulgar no cinema português, completamente genuíno e controlado nas suas nuances formais (notável direcção fotográfica de Edmundo Diaz).
- Keidas (Finlândia), de P.V. Lehtinen: uma espécie de portfolio cinematográfico sobre os frequentadores de uma piscina de Helsínquia que, na sua acutilante fotografia a preto e branco, tem tanto de reportagem como de celebração mitológica da pluralidade humana (e um desconcertante poder encantatório).
- Entracte (França), de Yann Gonzalez: fabulosa ideia de mise en scène centrada num terreno de jogo (de basquetebol, creio) onde evoluem três personagens que têm tanto de figuras de um teledisco geométrico como de sombras errantes de uma tragédia de amor - ao mesmo tempo claustrofóbico e libertador, o filme desemboca numa transcendência sustentada pelas palavras (por isso mesmo tornando inútil o seu derradeiro plano que nos mostra um espaço exterior e, por assim dizer, "alternativo"); é uma experiência apostada em celebrar o cinema como coisa simultaneamente sensual e abstracta.