narrativa.
Estes contos são fruto de um encantamento da autora pelo estado para onde se mudou em 1994. A epígrafe “a realidade nunca lhes serviu para grande coisa, por estas bandas”, atribuída a um velho cowboy do Wyoming sugere que, por estas palavras, o fantástico e o improvável correm de mãos dadas com cenários crús, de rocha à mostra, e pelas gentes que as pisam. Todavia, esse “real” não deixa de morar nunca em cada história que se conta, habitando como paisagem inevtável em relatos de vidas comuns.
O rápido curriculum vitae de Leeland Lee, nascido em 1947, que tropeça de mau em pior negócio, falência aqui, despedimento ali. A odisseia dos nove filhos de Isac Dumnire, que “recebiam cordas no Natal, um aperto de mão em cada aniversário e que se lixasse o bolo”. Ou um genial gople chico-esperto de vaqueiros no frio Inverno de 1886... Em todas estas histórias (dez ao todo aqui reunidas), a natureza é força maior que verga o homem. Entre relatos projectados no século XIX, outros contados na idade dos telemóveis e dos computadores, o mesmo Wyoming é a paisagem que, antes de tudo mais, molda as vidas de ficção que Annie Proulx ali coloca. Um Oeste que mesmo quando novo ainda ostenta marcas de outros tempos, destapando casos de isolamento, de perigos inesperados, tramas e vinganças, palco para personagens com vidas tão impiedosas quanto a pasiagem que as serve.
PS. Texto originalmente publicado no DN