domingo, julho 08, 2007

O renascimento a preto e branco

Ano Bowie – 54
‘Black Tie White Noise’ – álbum, 1993


Poucos dias depois de casados, Bowie e Iman estavam em Los Angeles. E, aí, em directo, viram a cidade entregue ao maior motim de violência racial que vivia desde os anos 60. Os acontecimentos acabariam por ser um dos motores para a criação de um novo disco, o terceiro (depois de Young Americans e Let’s Dance) no qual a América negra tomaria um peso protagonista na condução das opções. O título, Black Tie White Noise, seria reflexo de confrontos políticos e musicais entre o branco e o negro, estimulando o álbum que terminaria a etapa mais sombria e menos bem sucedida da carreira de David Bowie. Nile Rodgers, o ex-Chic que tinha sido força fundamental na criação do som de Let’s Dance foi convidado a regressar, co-assinando a produção do álbum com Bowie. A estúdio foram ainda convocados músicos capazes de conciliar os universos da pop com os da soul e, mesmo o jazz... Entre eles, os velhos parceiros Mike Garson e Mick Ronson. Uma primeira amostra do som que estava sobre a mesa de trabalho escutou-se em finais de 1992, no tema Real Cool World cedido para a banda sonora do filme com o mesmo título. A construção do álbum, todavia, revelou-se um processo moroso e complexo. Bowie quis juntar à paleta de referências sons do Médio Oriente, ecos do disco europeu, travos contemporâneos da club scene nova iorquina, procurando um sentido de unidade na variedade que por vezes lembra instantes de Station To Station ou mesmo Low. A identidade negra é, contudo, sublinhada no tema título pela presença do trompete de Lester Bowie e pela voz convidada de Al B Sure. Os grandes momentos do disco ficam todavia por conta de Jump They Say (single de apresentação, onde Bowie reflecte sobre a recente morte do irmão), o épico Miracle Goodnight (o quase ignorado terceiro single) e uma soberba versão de Nite Flights (dos Walker Brothers). Entre as demais versões do alinhamento, contam-se ainda novas leituras de I Know It’s Gonna Happen Someday (Morrissey), I Feel Free (Cream) e Don’t Let Me Down & Down (originalmente gravada por Tara, uma princesa mauritana, amiga de Iman). Sem ignorar o período de dez anos que o antecedeu, Black Tie White Noise é o disco que retoma (de facto) a história onde Let’s Dance nos havia deixado, recuperando pontas soltas e voltando a dar à carreira de Bowie um sentido preciso e oportuno. Foi o seu maior sucesso em anos e Jump They Say o seu primeiro top ten desde Absolute Beginers (1985).